São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

caminho das pedras

Encontrar sítios arqueológicos não é privilégio apenas de Indiana Jones

Em busca do passado perdido

Walter Fagundes Morales
Flavia Prado
colaboração para a Folha

Desvendar enigmas, superar armadilhas e enfrentar inescrupulosos inimigos: apesar de não serem muito fiéis à realidade, as aventuras do arqueólogo Indiana Jones (interpretado por Harrison Ford) ajudaram a popularizar a arqueologia. É verdade que muitas vezes o arqueólogo viaja por regiões distantes e até inóspitas, que sua pesquisa pode ocorrer em templos e cidades abandonadas há muito tempo e até que possa encontrar tesouros valiosíssimos. Mas o que move o arqueólogo é a paixão pela história, a vontade de entender como se processaram as transformações das sociedades humanas ao longo do tempo. Para tanto, ele analisa os vestígios materiais, restos de tudo aquilo que foi utilizado ou transformado pelo homem no passado.
Esses vestígios são diversificados, e o local onde são encontrados é denominado sítio arqueológico. Alguns desses sítios viraram atração turística: na Itália, as cidades de Pompéia e Herculano, soterradas pelas lavas do vulcão Vesúvio; no Peru, a cidade inca de Machu Picchu; no Egito, as pirâmides que serviram de túmulos aos faraós.
No Brasil, os sítios arqueológicos encontrados são menos monumentais, mas igualmente importantes. Quando os vestígios identificados são o resultado das atividades cotidianas dos povos que habitavam essas terras antes da conquista do europeu, são chamados de pré-coloniais, o que significa dizer que são de um momento anterior à conquista portuguesa. Quando são posteriores a essa época, formados depois do ano 1500, são chamados de históricos.
A maior parte dos vestígios materiais pré-coloniais encontrados em terras brasileiras é constituída por pedras lascadas ou polidas, gravuras ou pinturas gravadas nas paredes das cavernas e fragmentos de recipientes cerâmicos. Em janeiro, arqueólogos da Prefeitura de São Paulo encontraram no bairro da Penha (zona leste) fragmentos de cerâmica com pintura típica dos grupos indígenas tupi-guarani, que seriam restos de uma aldeia de um período anterior à chegada dos portugueses. É o único indício disponível da presença tupi na área ocupada hoje pela capital paulista.
Os vestígios do período histórico são diversificados e quase sempre estão associados a antigas propriedades, onde são encontrados desde pequenos objetos até as primeiras casas.

Alguns dos vestígios pré-coloniais são muito antigos e inserem o Brasil nas discussões sobre as rotas de povoamento do continente americano. Pesquisas realizadas recentemente no país comprovaram uma ocupação humana de pelo menos 12 mil anos, com datações muito próximas daquelas obtidas para os sítios associados à cultura Clóvis (EUA) -datada entre 10,5 mil e 11 mil anos- e para o sítio de Monte Verde (Chile) -datado em pelo menos 12,5 mil anos-, considerados os mais antigos do continente.
No Brasil, estudos desenvolvidos no Boqueirão da Pedra Furada (PI) sugerem uma antigüidade de ocupação de mais de 40 mil anos. Diretora do Parque Nacional da Serra da Capivara, onde fica o Boqueirão, a arqueóloga Niède Guidon é a principal defensora dessa tese, ainda não aceita por toda a comunidade científica. Em janeiro, ela criticou os assentamentos feitos pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em áreas próximas ao parque por trazerem riscos aos sítios arqueológicos da região. Para proteger esse patrimônio, o Ministério do Meio Ambiente baixou uma portaria, mês passado, estabelecendo a criação de um corredor ecológico.


Walter Fagundes Morales, 35, é doutor em arqueologia pelo MAE/USP. Atua como diretor operacional da ArqueoAdvanced e pesquisador no NEE/Arqueologia Pública, da Unicamp. Flavia Prado, 33, é mestre em arqueologia pelo MAE/USP e doutoranda no Nepam/ Unicamp. Atua como arqueóloga associada a Documento Antropologia e Arqueologia e pesquisadora no NEE/Arqueologia Pública.


Texto Anterior: Raio-X
Próximo Texto: Em busca do passado perdido
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.