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A guerra da internet

Projeto nos EUA que endurece penas para pirataria on-line e limita a liberdade na rede opõe indústria do entretenimento aos titãs da web

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Um projeto de lei antipirataria on-line que reforça penas para quem viola propriedade intelectual nos EUA põe em fronts opostos setores do Congresso do país, gigantes da área de entretenimento e titãs da internet, apoiados por juristas e acadêmicos.

A proposta em questão recebeu o nome de Sopa (Lei para Parar com a Pirataria On-line, em inglês). Repleta de conceitos vagos, sua receita encontrou oposição até da líder democrata na Câmara, a deputada Nancy Pelosi.

As críticas ao projeto, apresentado em outubro, mirando sites e firmas estrangeiros, não significam que a sociedade americana apoie a violação de copyright.

Pesquisa feita em agosto, encomendada pela Universidade Columbia e paga com ajuda do Google, aponta que só 16% acham correta a distribuição de conteúdo pirata em sites abertos ou redes sociais. A maioria (52%) defende punição à prática.

A cacofonia está, então, em como deve ser essa punição e qual o caminho até ela.

"O Sopa é um projeto de lei perigoso, que ameaça o setor mais vibrante da economia, o comércio na internet", escreveram os professores de direito Mark Lenley, David Levine e David Post, das universidades Stanford, Elon e Temple, em carta ao Congresso.

"Ela destoa da política externa dos EUA, que defende a internet aberta. Regimes opressores poderão usá-la para justificar a censura em seus países", diz, acrescentando que o Sopa põe em risco a liberdade de expressão.

A preocupação central dos juristas, contudo, é com a via sumária que a lei propõe.

Por ela, a Procuradoria Geral (Ministério da Justiça) pode ordenar o bloqueio imediato de um site suspeito e o corte de seus vínculos com anunciantes e intermediadores financeiros. Sem notificação nem processo legal.

"É um desastre", diz Evgeny Morozov, autor de "The Net Delusion: The Dark Side of Internet" (A desilusão da rede, o lado escuro da internet). "O projeto é incoerente com a 'liberdade na internet' pregada pelos EUA -se algo assim emergisse na China ou no Irã, Washington se oporia", escreveu ele à Folha.

Clay Shirky, outro teórico respeitado, se referiu ao projeto em seu Twitter como "um enorme passo atrás".

A favor da lei, estão as indústrias de cinema, TV e música; a aliança das empresas de software (que inclui a Apple e a Microsoft); e provedoras de TV a cabo e internet.

No campo oposto, Google, Yahoo!, YouTube, Facebook, Foursquare e Mozilla, que afirmam que a linguagem vaga do projeto torna portais, sites de busca e redes sociais legalmente responsáveis por abrigar sites e links com conteúdo pirata e passíveis das mesmas penas: bloqueio sumário e veto a anunciantes.

Com esse ônus, a lei busca monitorar com lupa o conteúdo. As empresas, porém, dizem que é tarefa impossível e que seriam levadas a censura preventiva.

Outra brecha é a definição de sites trapaceiros e conteúdo pirata. Interpretações elásticas, alertam os críticos, podem servir de fachada à censura. Pense no Wikileaks.

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