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Luli Radfahrer

99% de transpiração

Não adianta louvar ideias criativas sem traçar uma boa estratégia para colocá-las emprática

Nunca foi tão fácil fazer um website ou um aplicativo. Histórias de sucesso enchem páginas da mídia especializada e de livros de auto-ajuda corporativa com variações de uma lenga-lenga improvável: 1) sujeito estava de bobeira; 2) teve uma ideia brilhante a caminho do ponto de ônibus; 3) criou um aplicativo no guardanapo; 4) mandou programar na Índia; 5) vendeu em uma App Store por uma ninharia; 6) ficou milionário.

Bom demais para ser verdade? Claro que sim. Por mais que os tópicos do parágrafo acima sejam possíveis, a probabilidade de um serviço dar certo sem uma boa dose de planejamento é praticamente nula.

Isso nunca foi novidade. No entanto, a cultura empresarial que valoriza o "gênio rebelde" e promove a formação indiscriminada de líderes-inovadores rompe processos e cria situações inimagináveis há algumas décadas.

Como é possível lançar um Twitter ou uma Wikipédia sem pensar na forma como esses serviços se pagarão? Como imaginar um jornalismo de qualidade sem financiá-lo? Fala-se em economia criativa, mas ainda não criaram uma forma de encher o estômago da cigarra sem explorar o trabalho das formigas.

Start-ups falham porque seus criadores parecem se esquecer de que tocam um negócio. Por mais complexos que sejam o iPhone e o Kindle, eles são simplórios quando comparados com o processo industrial de projetá-los na Califórnia, construí-los na China e abastecer lojas espalhadas pelo mundo antes de seu lançamento.

Quem pretende investir tempo e dinheiro em uma ideia precisa imaginar seu desdobramento. Para isso, antes de analisar planilhas, mexer na poupança ou envolver profissionais, é preciso ter claras as respostas a algumas perguntas.

Pode-se começar da própria definição do produto ou serviço. O que ele faz? Por que é diferente? A quem se destina? Quantos consumidores existem? Como encontrá-los? Quem é a concorrência? Qual é o seu ciclo de vida? Como ele se renova?

Respondidas essas perguntas, é bom falar de dinheiro, já que até voluntários franciscanos precisam de computadores e energia elétrica.

Qual o investimento inicial? De onde virá? Que controle terão os investidores? Quanto vai custar o produto? Quando se imagina que dará lucro? E retorno sobre o investimento? Qual sua previsão de crescimento em seis meses? E em cinco anos? Quais são as barreiras econômicas, legais, trabalhistas, tributárias? Quais as possibilidades do negócio falir? O que acontecerá se falir?

Quando essas questões tiverem respostas, vale pensar nas mudanças de estilo de vida. Você poderá se dedicar integralmente ao negócio? Como se sustentará? Que tipo de trabalho pretende fazer? Quantas horas por dia e por semana trabalhará? Poderá tirar férias? Ganhará o suficiente para manter seu estilo de vida atual?

Se tudo der certo, é preciso defender a posição. O que é preciso fazer para se manter à frente da concorrência? Como fazer pesquisas de mercado, suporte e atendimento ao cliente? Como divulgar o produto? Que perfil e conteúdo ter nas redes sociais?

Não é fácil. Poetas e músicos podem desejar a Lua, mas é preciso ter a disciplina, a paciência e a resignação de astrônomos, engenheiros e militares para conquistá-la.

folha@luli.com.br

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