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Bug do milênio 2?

Técnicos que ajudaram a desenvolver a web preveem uma catástrofe digital com o aumento da velocidade da rede e do volume de informações

QUENTIN HARDY
DO “NEW YORK TIMES”

A Arista Networks é a prova concreta de que duas pessoas podem faturar cada qual mais de US$ 1 bilhão com o desenvolvimento da internet e, ainda assim, não confiar muito nela.

David Cheriton, professor de ciência da computação na Universidade Stanford, conhecido por seu talento como criador de software, e Andreas Bechtolsheim, um dos fundadores da Sun Microsystems, decidiram investir US$ 100 milhões, e já gastaram metade disso, para reformular a maneira pela qual os computadores são conectados às grandes centrais de computação de internet.

Como dizem os dois, fundadores da Arista, a promessa de acesso instantâneo a volumes gigantescos de dados vem acompanhada pela ameaça de catástrofe.

As redes rápidas permitem que as pessoas transfiram parcelas cada vez maior dos produtos da civilização para a mídia on-line e são concebidas de forma que fiquem disponíveis o tempo todo, via celular, tablet, computador e uma gama crescente de outros aparelhos conectáveis.

Os estudos da Arista indicam que um número várias vezes multiplicado de transações entre computadores, em um mundo com conexões cem vezes mais rápidas que as atuais, conduzirá a maior número de acidentes e a um menor intervalo entre eles.

A nuvem da Amazon já passou por uma paralisação de horas de duração em abril, quando as rotinas computacionais falharam e o sistema sofreu uma sobrecarga. A nuvem do Google para seu serviço de e-mail e documentos colaborativos já sofreu diversas interrupções.

Cheriton e Bechtolsheim estiveram entre os primeiros investidores do Google, o que tornou a ambos bilionários, e antes disso criaram e venderam uma empresa à gigante das redes Cisco por US$ 220 milhões. Sua riqueza e reputação como visionários tecnológicos confere rara credibilidade aos seus argumentos quanto aos riscos das redes mais rápidas.

Ainda que diga que a sociedade on-line chegou para ficar, Cheriton se preocupa muito com os riscos de segurança. "Fiz a alegação de que as forças armadas chinesas seriam capazes de derrubar a rede em 30 segundos, e não há quem tenha provado que estou errado", diz.

PLANO DE GUERRA

Sua companhia tem 250 funcionários, 167 dos quais engenheiros, e seu projeto é construir um processador de dados de alta velocidade capaz de isolar problemas e resolvê-los sem derrubar a rede. O propósito é que possa ser operado com chips baratos e produzidos em massa.

A Arista conta com mais de mil clientes agora, entre os quais companhias de telecomunicações e laboratórios universitários de pesquisa.

"Eles criaram algo arquitetonicamente único nas redes, e isso oferece grande valor para o setor", afirma Nicholas Lippis, que testa e avalia esses processadores.

Kenneth Duda, outro dos fundadores, conta que "o que nos motiva aqui é descobrir uma nova maneira de desenvolver software".

SEM ALARMISMO

Não surpreende que a Cisco, empresa dominante no mercado de software de roteamento, um negócio que movimenta US$ 5 bilhões ao ano, discorde. "Não é preciso reinventar a internet", diz Ram Velaga, vice-presidente de gestão de produtos da Cisco. "Os protocolos foram criados para funcionar mesmo que Washington seja destruída. Isso faz parte da arquitetura."

Mas os novos comutadores da Cisco para centrais de dados têm software reescrito para ser mais parecido com o da Arista. Alguns produtos da empresa vêm usando o chamado "silício comercial", em vez de seus chips exclusivos.

PASSO LENTO

Porque a Arista não tem investidores externos, eles podem demorar quanto quiserem no desenvolvimento do produto, disse Bechtolsheim.

"Os executivos de capital para empreendimentos não têm paciência para esperar o desenvolvimento de um produto", afirmou o criador da Arista. "E logo querem apontar um amigo como presidente-executivo."

Cheriton acrescenta que não ter dinheiro do setor de capital para empreendimentos "representa uma vantagem competitiva". "Além disso, Andy [Bechtolsheim] nunca me disse que o projeto custaria US$ 100 milhões."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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