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Luli Radfahrer

Little data

Obsessão por mensuração e análise pode deixar usuário viciado nas estatísticas que deveriam libertá-lo

As tecnologias de Big Data chegaram silenciosamente, mudando a estratégia de muitos negócios. Fatos dignos de ficção científica, como lojas de departamentos capazes de identificar se suas consumidoras estão grávidas a partir do padrão de consumo e serviços de busca mapeando em tempo real o progresso de pandemias já são notícia velha.

Empresas e instituições de vários tipos e tamanhos hoje são capazes de coletar dados a partir de várias fontes, combinando-os em sistemas de armazenamento da ordem de petabytes (mil terabytes) e analisá-los em busca de padrões. O resultado são previsões melhores, serviços mais personalizados e mensagens mais bem dirigidas, estimulando decisões melhor informadas e mais seguras.

Da mesma forma que os grandes volumes de dados mudam a gestão de corporações, uma nuvem de pequenas informações pessoais, conectadas, começa a provocar uma mudança de costumes. São dados que registram o que uma pessoa sabe a respeito de si própria: o que fez, quem conhece, aonde foi, como dormiu, quanto pesa, como passa o tempo.

Diários, conciliação bancária e consultas periódicas à balança sempre foram comuns. O que mudou foi a combinação de tecnologias móveis, sociais, de nuvem e sensores a esses registros, tornando a coleta quase automática e a análise mais fácil e abrangente.

A tecnologia, a princípio, é ótima, e pode impulsionar novas áreas, como a de saúde móvel. Com a ajuda de seus relatórios pode-se facilmente perder peso e ser mais eficiente no trabalho, bastando para isso reduzir comportamentos daninhos ou ociosos. Vários estudos médicos mostram que o registro frequente de atividades é um grande reforço para o tratamento de condições crônicas.

Não deve demorar para que novas empresas criem serviços que permitam a seus consumidores buscar informações em suas bases quando quiserem, gerando novas mudanças de comportamento.

Mensuração e análise são ótimas. Sem elas é quase impossível progredir. Mas é preciso cautela em seu uso. A obsessão por elas, da mesma forma que a procura desesperada por seguidores nas mídias sociais, pode piorar uma situação, deixando seu usuário viciado nas estatísticas que deveriam libertá-lo.

QI, placares e centímetros de bíceps são métricas observáveis e fáceis de se comparar. Mas isso não quer dizer que sejam as melhores ou mesmo as certas. Um funcionário pontual nem sempre é o melhor funcionário, mais conexões não significa mais conhecimento.

Além do mais, o que é o certo? A preocupação excessiva com as métricas pessoais pode levar à padronização e robotização de seus usuários, um efeito colateral bastante desagradável. Em situações extremas podem até criar autômatos ou estimular comportamentos doentios, como anorexia ou bulimia.

De qualquer forma, a ignorância nunca é uma bênção. Os benefícios do autoconhecimento são incomparáveis. Mas para isso é preciso um pouco de trabalho. Não basta apenas coletar os dados, deve-se também refletir sobre eles e planejar novas metas periodicamente, aprendendo a identificar padrões de comportamento nocivos e recorrentes. Nesses termos, a quantificação pessoal só deve fazer bem.


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