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André Conti

Reinventando a roda

"Skyward Sword" preserva o espírito de Zelda e não há momento perdido nas mais de 50 horas de duração

Durante o filme "O Leopardo", do diretor italiano Luchino Visconti, o aristocrata decadente vivido por Burt Lancaster encara com estoicismo a emergência da burguesia e o fim de sua classe social. "As coisas precisam mudar para permanecerem as mesmas", ele diz, conforme arranja o casamento de seu sobrinho com uma fortuna emergente.

Esse parece ser um pouco o desafio da Nintendo a cada sequência de Zelda, que completou um quarto de século agora em 2011. Como renovar um jogo sem trair as expectativas dos fãs e o espírito da série?

Nesse sentido, Zelda é o oposto de Mario. Os últimos jogos do encanador beneficiaram-se justo da inventividade no formato. "Mario Galaxy" se passava no espaço, expandindo as possibilidades do 3D inauguradas com "Mario 64". "New Super Mario Bros. Wii" pegou a contramão, reinventando o 2D dos originais. E por aí vai.

Acho que, contanto que o Mario pule, coma cogumelos e salve a Princesa, tudo estará bem. Mas no caso de Zelda, o grande barato é justamente a fórmula. Quebre alguma tradição e é melhor usar outro nome na caixa.

O curioso é que, nas poucas vezes em que a Nintendo desviou um pouco da receita, ela acabou criando os grandes jogos da série.

"A Link to the Past", de 1991, era uma reinvenção dos originais e estabeleceu o formato que seria imitado em praticamente todos os títulos seguintes. Em "Majora's Mask", de 2000, o jogador tinha apenas três dias antes que o mundo acabasse, o que rendeu alguns dos quebra-cabeças mais cabeludos que já vi (e o Zelda mais surpreendente).

Com o ciclo do Wii quase no fim, e um ano fiscal abaixo das expectativas, a Nintendo precisava acertar no último Zelda dessa geração.

Felizmente, "The Legend of Zelda: Skyward Sword" (Wii, R$ 169) é um acerto estrondoso, um jogo que preserva o espírito da série, mas que para isso mexe com mecanismos fundamentais de seus antecessores.

"Skyward Sword" parece um Zelda antigo: há mais liberdade na exploração, mas sem prejuízo ao ritmo. Dezenas de missões paralelas, rotas alternativas e segredos tornam qualquer caminho algo único, e não há um momento perdido nas mais de 50 horas de duração.

Ao mesmo tempo, "Skyward Sword" introduz mudanças à série que, se não parecem grande coisa, são suficientes para criar uma experiência bastante nova dentro de um universo tão rígido. E, a começar pelo uso obrigatório do Wii Motion Plus, assessório que aumenta a precisão do controle do Wii, todos os ajustes são incorporados quase que naturalmente.

Mas, para além do sistema de aprimoramento de itens, da nova barra de fadiga e do inventário repaginado, é um jogo de boas ideias. Os quebra-cabeças são engenhosos e jamais se repetem. Há sempre um passo a mais a ser dado, uma nova exigência, outro obstáculo.

A recompensa por explorar cada canto do cenário é imensa. Conforme a trama tenta estabelecer uma mitologia comum à série, os melhores aspectos dos antecessores aparecem para amarrar as novas ideias. Prova de que não é preciso reinventar a roda para reinventar a roda.

chorume.org

@andre_conti

Luli Radfahrer
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

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