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Depoimento

Ao deixar minha comunidade, só peço: "Libertem o inhame"

MARCOS BARBARÁ COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Há tempos eu evitava esse momento. Desde o fim de junho, quando o Google divulgou que em setembro desativaria o Orkut, nunca mais o acessei. Não que eu fosse um usuário frequente nos últimos tempos, mas era confortante saber que ele estava lá.

Eu fui uma celebridade no Orkut. Do tipo que é reconhecido no metrô (duas vezes). Minha fama virtual tinha uma razão: criei uma das comunidades mais enigmáticas daquele mundo, a Anão Vestido de Palhaço Mata 8.

Ela era um espaço onde as notícias mais esquisitas, insólitas e absurdas eram postadas, catalogadas e comentadas por milhares de pessoas diariamente. No seu auge, em 2007, chegou a ter 159 mil usuários ativos, que é um número maior que a população de São Caetano do Sul --sendo eu o prefeito-ditador.

Quando o Orkut começou seu declínio, naquela enxurrada de gifs animados e vírus, deixei de conectar a todo tempo como de costume e passei a fazer acessos semanais, mensais, e por fim, semestrais. Ao criar coragem e entrar, me sinto como em uma cidade em ruínas, uma Tebas, uma Constantinopla, com muita história em meio aos destroços. Nenhum tópico é criado há tempos, não há novas mensagens. A Anão ainda mantém exatos 81.492 membros, mas nenhum ativo. São como espectros, meras testemunhas do adeus.

Está tudo lá, intocado, e assim vai ficar --o Google comunicou que manterá uma espécie de arquivo digital das comunidades públicas.

E será muito bom assim, pois o Orkut foi parte importante da nossa formação cultural virtual, e fonte riquíssima de consulta para aqueles que, no futuro, quiserem entender como era a sociedade no início do milênio.

Prefiro encerrar rapidamente minha visita sem passar pelas minhas outras 19 comunidades, deixando apenas na Anão Vestido de Palhaço uma mensagem enigmática como registro derradeiro da rede: "Libertem o inhame".


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