Projetos ensinam programação em escolas
Iniciativas como o Code Club e o Code.org tentam convencer pais e políticos da importância da disciplina
Carentes de quadros, empresas de tecnologia apoiam ações, que aos poucos começam a ganhar força no Brasil
Quando dava aula de webdesign para adultos no Complexo do Alemão, no Rio, o analista de sistemas Felipe Fernandes, 33, notou que seus alunos tinham dificuldades ao fazerem as lições de linguagens de programação.
Na busca por uma metodologia mais acessível, esbarrou no Code Club, um projeto de duas programadoras britânicas para ensinar programação para crianças de um jeito simples. Em vez de apenas adotar a metodologia, Fernandes resolveu engajar-se na iniciativa e, em 2013, fundou o segundo clube brasileiro --já havia um começando no Rio Grande do Sul.
Hoje, ele é o coordenador do Code Club no Brasil e ajuda a organizar as atividades entre os estimados 80 clubes, 300 voluntários e 1.000 alunos espalhados pelo país. Seu maior objetivo, disse à Folha, é convencer pais, educadores e políticos dos benefícios que o ensino dos códigos pode trazer para as crianças.
"A programação é importante não para formar profissionais da área, mas porque ensina a criança a pensar", diz. "Além disso, ela muda sua relação com a tecnologia. Ao invés de simplesmente usar o computador de uma forma passiva, como um depósito de informações, você passa a usá-lo para criar".
O Code Club foi fundado em 2012, no Reino Unido, pelas britânicas Clare Sutcliffe e Linda Sandvik com um objetivo pouco modesto: dar oportunidade a toda criança de ser apresentada à programação de computadores.
O método escolhido foi criar um curso básico de programação que usasse elementos atrativos para as crianças --como jogos de computador-- e angariar voluntários pelo mundo que traduzissem e aplicassem os materiais desenvolvidos em reuniões periódicas com alunos.
Hoje, segundo seu site, há 2.265 clubes pelo mundo.
O projeto, junto com outras iniciativas similares, conseguiu chamar a atenção do governo britânico para a questão e, desde o mês passado, todas as escolas do país passaram a oferecer, na grade curricular obrigatória, disciplinas sobre o assunto.
Movimento similar acontece em algumas cidades americanas, como Chicago e Los Angeles, que recentemente anunciaram planos de introduzir a programação na rede de ensino.
OUTROS PROJETOS
No Brasil, iniciativas do tipo ainda engatinham, mas têm crescido. Em outubro, a Fundação Lemann, organização filantrópica do bilionário Jorge Paulo Lemann, lançou o site Programaê, que funciona como agregador de várias iniciativas, entre elas o próprio Code Club e outro projeto chamado Code.org.
Fundado pelo empresário do Vale do Silício Hadi Partovi, um iraniano radicado nos EUA, o Code.org é um exemplo de como a ideia de ensinar programação tem ganhado força.
A iniciativa arrecadou milhões de dólares e conseguiu reunir várias das maiores --e tradicionalmente rivais-- empresas de tecnologia, como Apple, Google, Facebook e Microsoft; além de personalidades como o presidente dos EUA, Barack Obama.
Segundo um estudo da consultoria IDC, só no Brasil, cerca de 117 mil vagas de TI ficarão abertas por falta de mão de obra qualificada.