Eu sei o que você fez no clique passado
Empresas de internet cruzam dados para saber tudo sobre o usuário e vender propaganda 'ao vivo' e com base na localização
"Perto do shopping? Que tal ver esse novo filme nas nossas salas de cinema?", questionou, por meio de notificação, o aplicativo do Facebook nas últimas semanas a usuários paulistanos.
Para a campanha, a Warner Bros, distribuidora do filme em questão ("Mad Max"), valeu-se do Place Tips, plataforma recém-lançada pela rede social que permite que estabelecimentos anunciem diretamente a potenciais clientes em locais específicos.
O Facebook decide se o usuário é um bom "alvo" consultando seu histórico de atividade e seu cadastro.
"Parte das informações você põe no seu perfil, quem você é. Mas eu diria que a maior parte do que a rede social sabe sobre você é baseado no seu comportamento", diz Jessé Rodrigues, professor de marketing digital da ESPM.
Anúncios desse tipo fazem parte das táticas mais novas de publicidade, que permitem aos anunciantes saber minúcias sobre a vida do público que deseja atingir, cruzando informações dos bancos de dados em posse das empresas de internet, por exemplo, com a localização.
"Você pode nunca ter dito no seu perfil que é um agrônomo, mas se você curtir 15 links sobre agricultura, agronegócio, a leitura que a rede vai fazer é que você é da área", diz Ribeiro.
Segundo Alessandro Gil, presidente no Brasil da Rakuten Marketing, que cria tecnologia de publicidade on-line, as empresas podem hoje monitorar em tempo real se um determinado público visita um site e mostrar anúncios.
"Dá para saber se certo grupo de mulheres, consumidoras de maquiagem e moradoras de São Paulo está num site naquele momento", diz.
"Uma loja de esportes", exemplifica Rodrigues, "pode enviar uma promoção exclusiva para os são-paulinos, com camisa ou meia do São Paulo quando o time ganha."
Isso depende de tecnologias como os cookies, programas instalados pelos sites no ato da navegação. Eles registram a atividade do internauta (um produto comprado ou visualizado, por exemplo) e isso vira informação valiosa.
Os sites, então, podem fazer acordos para ter acesso à atividade dos visitantes uns dos outros. Bases de dados de bancos, de cadastros de devedores e de cartões de crédito também são usadas.
E isso é legal? "Sem uma lei de proteção de dados, infelizmente, sim", diz Frederico Meinberg Ceroy, presidente do IBDD (Instituto Brasileiro do Direito Digital) e representante do Ministério da Justiça na discussão do projeto de lei para proteção dos dados pessoais, espécie de complemento ao Marco Civil em fase de consulta pública.
Isso porque as redes sociais, apps e serviços de internet, como os do Google, têm o consentimento de usuários.
"Quando baixamos um app, há os termos de serviço. Mas quem lê?", diz Pollyana Ferreira, professora de comunicação digital da PUC-SP. "Não percebemos que nossas informações são uma moeda."
Ferreira diz tomar medidas como nunca "fazer check-in" (divulgar localização) em redes sociais e navegar só no modo anônimo de navegadores, que bloqueia cookies.
Consultado, o Google disse ter uma página explicativa e que permite ao usuário optar por deixar de ser rastreado (bit.ly/googlepriva). O Facebook não comentou.