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André Conti

Por que jogamos

A chave que aproxima os jogadores não deve ser a história em si, mas o tipo de satisfação que buscamos

Acho que jogo todos os dias, a não ser que a situação não permita. Se possível, na hora ideal, ali pelas 23h, seguindo até bater o sono. Se ficar em casa na sexta ou no sábado, melhor. Dá para começar de madrugada e seguir até de manhã.

Mantenho mais de um jogo ao mesmo tempo. Adventures ou jogos de estratégia são ideais porque têm ritmo mais vagaroso, e às vezes é bom quebrar uma partida mais longa de um RPG ou coisa assim.

Desse jeito, consigo acabar uma porção de coisas sem abrir mão dos meus gêneros favoritos. E dá para vasculhar os clássicos -jogos de que você ouviu falar anos atrás numa revista ou numa conversa e que agora podem ser facilmente encontrados na internet.

Em paralelo, tento dar conta dos lançamentos que me interessam. Aí vale qualquer gênero e tamanho, ainda que a seleção em si envolva todo um processo. Acho essa parte da pesquisa, de ler sobre o jogo e decidir se vale a pena, quase tão divertida quanto o jogo em si.

Não dá para acabar tudo, evidentemente. Mas me esforço. Nesse sentido, gosto demais desses jogos de média duração, como os vendidos nas redes PSN e Xbox Live. "Shadow Complex", de Xbox 360, dura um fim de semana. Pode parecer pouco, mas rende um sábado de chuva excelente com um amigo.

E são justamente essas partidas, entre amigos, as mais memoráveis. "Zelda 2" com meu irmão em 1988, um verão inteiro de "Ocarina of Time" dez anos depois. Mas também uma tarde de "Shatter", fugindo do calor abissal de Porto Alegre, ou uma noite de apelação com o Blanka em "Street Fighter 4".

Mas não importa o jogo, o motivo ou a companhia. Seja no Facebook criando galinhas, num multiplayer de "Call of Duty" ou mesmo se você passou os últimos 15 anos jogando só "Tetris". Tanto faz.

É como o sujeito que passou o ano jogando somente "Fifa Soccer". O mundo inteiro lá fora, centenas de jogos por descobrir, uma vastidão de gêneros e assuntos, tudo isso contra um ou dois campeonatos. Esse sujeito, que, visto de fora, parece ter repetido os mesmos 15 minutos por cerca de 300 horas e desperdiçado esse universo de possibilidades, pode ter passado por uma experiência tão rica quanto qualquer outra.

Quem sabe a narrativa que ele criou para costurar essas horas? Se ele não precisa de roteiristas, trama elaborada e variedade para contar algum tipo de história na cabeça, quem somos nós para exigir que ele passe pelo cânone do RPG oriental?

Acho que essa deve ser a chave que aproxima os jogadores: não a história em si, mas que tipo de satisfação buscamos nos jogos. Há quem escolha por tema, gráficos, produtora, gênero, dificuldade: são inúmeros caminhos. Há quem jogue todos os dias ou uma vez por ano.

Mas também há algo comum correndo por trás. Quem pensa que uma trama simples ou um jogo aparentemente banal não exigem da imaginação deixa de perceber o que talvez seja o grande trunfo dos jogos: mais do que conduzir um personagem ao final de uma série de desafios, passamos boa parte do tempo preenchendo as lacunas entre uma coisa e outra.

Cabe um mundo numa rodada de "Paciência".

chorume.org

@andre_conti

LULI RADFAHRER
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

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