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Entrevista Martin Cooper

Celulares atuais são muito caros e difíceis de usar

Opinião é de Martin Cooper, 83, que em 1973 inventou o aparelho na Motorola

Sandy Huffaker/"The New York Times"
Martin Cooper em seu escritório, na Califórnia
Martin Cooper em seu escritório, na Califórnia

BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os telefones celulares atuais são caros e muito difíceis de usar. A opinião se escora em uma autoridade que poucos podem ostentar: é de Martin Cooper, 83, considerado o inventor do telefone celular.

Em 3 de abril de 1973, o então chefe da divisão de pesquisas da Motorola apresentou um protótipo do DynaTac 8000x, o primeiro celular do mundo.

Atualmente, ele é presidente emérito do conselho da ArrayComm, empresa que desenvolve tecnologia sem fio, e membro do Comitê Consultivo de Espectro do Departamento de Comércio dos EUA.

De sua casa, na Califórnia, ele conversou com a Folha -pelo celular, claro.

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Folha - O que inspirou o senhor a criar o telefone celular?

Martin Cooper - A [operadora de telefonia] AT&T havia criado uma tecnologia chamada "celular". Mas o celular deles significava telefones em carros. Não acreditávamos nisso e tivemos que provar ao mundo que a AT&T não era a única que podia criar essa tecnologia. Tínhamos que provar a praticidade de ter um meio de comunicação pessoal, e o único jeito era construir um telefone e mostrar que ele funcionava.

Quantas pessoas trabalharam no primeiro celular?

O protótipo tinha que ser construído em apenas três meses, então escolhi os melhores da empresa. O telefone precisou de sete ou oito pessoas, mas tínhamos de construir as estações-base. Isso requereu mais dez pessoas.

Quais foram as dificuldades para criar o primeiro celular?

O desafio era colocar tudo em uma embalagem pequena. Quando chegou essa hora havia 2.000 peças! Um telefone moderno tem cerca de cem peças.

Houve gente que se opôs ao projeto dentro da Motorola?

Sim. Havia pessoas que achavam que não deveríamos investir tanto dinheiro, por acreditarem que o mercado seria pequeno.

O que o senhor sente quando vê tantas pessoas usando telefones celulares?

Acho que revoluções maiores acontecerão. O fato de que podemos nos conectar com as pessoas vai revolucionar a medicina, os negócios e a educação. A combinação entre o celular e a internet vai aumentar a eficiência nesses campos e, em cada um deles, vai haver uma revolução.

O senhor ganha dinheiro com cada unidade de telefone celular vendida?

Quando entrei na Motorola, eles me pagaram US$ 1 pelos direitos de tudo o que eu criasse enquanto estivesse lá, então não ganhei dinheiro com cada celular vendido.

Qual aparelho o senhor tem?

Eu experimento todos. Compro um novo aparelho a cada três ou quatro meses. Estou conversando com você de um Droid Razr, da Motorola. Mas já tive um iPhone.

E o que acha dos celulares terem se transformado em minicomputadores?

Se for útil, eu gosto. Do que não gosto é que a maioria das operadoras acha que devemos ter exatamente o mesmo telefone. Não dá mais nem para comprar um telefone simples. Você deveria comprar um telefone apenas com as especificações de que precisa. Claro, os aparelhos vão se tornar mais complexos, mas eles têm que ser mais fáceis de usar.

O senhor usa aplicativos, como os de redes sociais?

Sim, mas não tenho certeza de que isso seja necessário. Faço para entender. Qual o propósito de ler e-mail no telefone, já que, sempre que estou em casa ou no escritório, tenho um computador? Vejo as pessoas na mesa de jantar lendo seus e-mails e acho isso terrível.

Quais são as oportunidades perdidas pela indústria?

O serviço de telefonia celular é muito caro. Quanto mais barato, mais gente se beneficia. Operadoras e fabricantes não estão reduzindo os custos de ter um celular de forma veloz. Os celulares terão um grande impacto sobre a pobreza, mas o preço precisa cair.

O senhor se incomoda com o fato de que poucos associam seu nome à sua invenção?

Não muito. Eu me sinto muito honrado. Se ninguém soubesse, eu não estaria conversando com pessoas como você. Então, não sou infeliz com o jeito como o mundo me trata.

ORIGEM Chicago

FORMAÇÃO Engenharia elétrica

CARREIRA MILITAR Atuou na Guerra da Coreia (1950-1953)

LEI DE COOPER Diz que o número de transmissões de dados ou de voz que conseguimos enviar pelo ar dobra a cada 30 meses

ESTADO CIVIL Casado com Arlene Harris, veterana da indústria de celular e criadora do JitterBug, aparelho para idosos

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