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André Conti

Fliperamas

O lugar era pequeno, escuro e emanava uma leve aura de perigo; a máquina quente era 'Double Dragon'

Na última coluna, falei rapidamente sobre fliperamas, e alguns leitores escreveram pedindo que eu voltasse ao assunto. Consigo me lembrar bem da última vez que joguei (um ano atrás, "Daytona USA" na Liberdade, perdi por roubalheira), mas não tenho nenhuma memória da primeira máquina que levou minhas fichas. Até onde sei, elas sempre existiram.

Mas me lembro bem do primeiro fliperama que frequentei, no Guarujá. Exigia uma caminhada perigosíssima ao centro, que já tinha clamado o boné de muita gente. O lugar era apropriadamente pequeno e escuro e emanava uma leve aura de perigo (todo o mundo tinha um amigo que havia sido assaltado lá).

A máquina quente era "Double Dragon", que juntava uma pequena fila no horário de pico. Quando alguém ameaçava chegar ao fim, a turba se juntava em volta na torcida e, não raro, colaborava com as fichas. Pelo menos ali, "Double Dragon" destronara "Space Invaders", "Donkey Kong" e "Q*bert".

A primeira máquina que terminei foi a dos Simpsons. Estava com a família em Santos, para um casamento, e descobri com uns primos que o hotel tinha uma área com fliperamas. Jogávamos em três, e o mais novo (eu) sempre era obrigado a escolher a Maggie. Não me recordo nem sequer de quem era o casório, mas ainda sei a ordem dos chefes.

"Street Fighter 2" multiplicou as casas de fliperama em São Paulo. De repente, havia uma a cinco quadras de onde eu morava e outra logo ali na Paulista. Nessa época, o fliperama estava à frente dos consoles nos gráficos, o que justificava perfeitamente o investimento.

Além da infinidade de jogos de luta, reinava muito aquela máquina dos X-Men, com tela dupla e briga certa para decidir quem ficava com que personagem. E havia ainda o indefectível corredor de pinballs, relegado aos que não se deixavam impressionar pelo visual transado dos fliperamas modernos.

O que não significa que os pinballs também não estivessem avançando. Para uma geração anterior à minha, imperaram as máquinas da Taito, como "Shark" e "Cosmic". Pra mim, o grande pinball sempre será "Exterminador do Futuro 2", com o lançador digital e as animações laranjas quando você acertava alguma coisa.

Os fliperamas foram migrando para os shoppings, nos tais Playlands, que também foram responsáveis pela substituição das fichas por cartões. No começo, os lançamentos valiam a viagem. Com os anos, as máquinas foram se misturando aos trenzinhos e aos jogos de dança, até que os Playlands virassem grandes parquinhos com um ou outro jogo bom.

Mas quem venceu a briga foram os consoles. Para que desperdiçar quilos de dinheiro jogando "Street Fighter 2", se ele estava disponível, numa versão muito similar, no Super Nintendo?

Hoje, é mais fácil jogar fliperama no computador, usando o Mame (mamedev.org), um emulador que roda praticamente todos as máquinas que já existiram. Todavia, uma ou outra casa sobrevive. Essa da Liberdade ainda usa fichas, e a chave do banheiro fica presa a um pé de cabra. Mas evite o terceiro carro do "Daytona": a máquina rouba contra ele na última volta.

folha.com/jogatina

@andre_conti

LULI RADFAHRER
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

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