Privacidade na mira

Estava curtindo o anoitecer com um grupo de seis amigos, e todos pareciam interessados no que eu dizia, exceto a minha namorada.

"Girls Around Me? De novo?", disse ela, repreendendo-me. "Não mostre isso a eles."

Tornara-me obcecado com o Girls Around Me, um aplicativo que destila perfeitamente muitas das mais preocupantes questões relacionadas a redes sociais, privacidade e ascensão dos smartphones.

Coloquei meu iPhone sobre a mesa, na frente de todos, e abri o aplicativo. Após alguns poucos segundos, o mapa da nossa região estava cheio de imagens de garotas que estavam na vizinhança.

"Espere aí... Essas meninas são prostitutas?", perguntou um de meus amigos.

"São apenas garotas comuns. Vê esta menina? Seu nome é Zoe. Ela mora na mesma rua que eu e Brittany e trabalha em um café."

"Como o aplicativo sabe onde estas garotas estão? Você as conhece? Ele pega os dados da sua lista de contatos?"

"De maneira alguma. São garotas com perfis no Facebook publicamente visíveis que recentemente fizeram check-in nestes locais usando o Foursquare."

"OK, então elas sabem que seus dados podem ser usados dessa maneira para qualquer um ver? Tudo bem para elas?"

"Provavelmente não, na verdade. A maioria das configurações de privacidade em redes sociais tem como padrão compartilhar tudo com todos, e, como a maioria das pessoas nunca as muda... Bem, os dados acabam sugados em aplicativos como este."

"Digamos que eu vá ao Independent, ali na esquina, e, ao conferir o Girls Around Me, goste muito da aparência dessa garota chamada Zoe, então pressiono sua foto para obter mais informações."

Apertei a foto de Zoe. O Girls Around Me exibiu seu perfil no Facebook. O aplicativo disse-me onde Zoe foi vista pela última vez (The Independent) e quando (15 minutos atrás). Um grande botão com o rótulo "Fotos e Mensagens" simplesmente pedia para ser pressionado, e, quando o fiz, fui levado ao perfil de Zoe no Facebook.

"Posso ver em um relance que ela é solteira, tem 24 anos, estudou na Stoneham High School, gosta de viajar e diz que seu livro favorito é 'Gone with the Wind'."

"OK, parece que Zoe é meu tipo de garota. Pelos seus álbuns de fotos, consigo ver que gosta de festas. Sua bebida favorita é frosty margarita. Ela parece ter ido recentemente a Roma."

"Então agora sei tudo sobre Zoe. Sei onde ela está. Sei seu nome completo. Sei o que ela gosta de beber. Sei onde ela estudou. Tudo o que eu preciso fazer agora é ir ao Independent, perguntar-lhe se se lembra de mim na Stoneham High School, perguntar-lhe como vai seu irmão Mike, comprar-lhe uma frosty margarita e começar a discursar sobre aquele verão que passei em Roma."

Frequentemente um redator carrega nas tintas para transmitir ao leitor o espírito do que ocorreu. Quero apenas deixar claro que não estou fazendo isso quando digo que uma das minhas amigas estava realmente à beira das lágrimas. Ela estava realmente horrorizada a ponto de chorar.

"Como a Apple pode deixar as pessoas baixarem um aplicativo como este?", ela perguntou.

Eu disse que o Girls Around Me na verdade não fazia nada de errado. Tudo o que ele fazia era usar APIs públicas do Google Maps, do Facebook e do Foursquare e misturá-las. Todas as garotas (e homens!) que apareciam tinham o poder de deixar essas informações invisíveis a estranhos, mas, seja por ignorância, apatia ou preguiça, nenhuma delas fez isso. Era tudo informação pública. Nada do que o Girls Around Me fazia viola qualquer uma das políticas da Apple.

O Girls Around Me não é um aplicativo que você deve usar para pegar meninas (ou meninos). Ele é um app que você deve baixar para ensinar às pessoas que questões de privacidade são reais, que redes sociais como o Facebook e o Foursquare expõem você e conhecidos seus e que, se você não sabe exatamente o quanto compartilha, está vulnerável como se estivesse nu.