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Preconceito revela o pior da rede, diz especialista

Comentários radicais preocupam pela ausência de pudor das pessoas

Apesar do elitismo nas reações à massificação, 'exclusividade' não passa de estratégia para vender mais produtos

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"O que me preocupa não é o incômodo que esses usuários sentem quando um serviço deixa de ser restrito, mas como alguns reagem", diz a especialista em novas tecnologias e mídias digitais Elis Monteiro, 36. "A rede social libera o que tem de pior no ser humano."

Ela conta a história de uma palestra que fez no ano passado. Um adolescente disse, ao microfone, que o Facebook deveria ser fechado para quem tinha ensino superior.

"Quase fui vaiada pela plateia porque discordei", conta. "Ele me chamou de hipócrita e disse: 'Você não quer conviver com a sua empregada nas redes sociais'."

Para Monteiro, muitos não percebem que não há dissociação entre as vidas on-line e off-line. "As pessoas agem como se fossem duas. Quando adquirem o manto virtual, muitos acham que podem falar o que quiser."

"Muitos dos preconceitos que aparecem na internet já fazem parte da nossa sociedade", diz Raquel da Cunha Recuero, 34, doutora em comunicação e informação pela UFRGS. "Mas eles se tornam mais explícitos na rede."

Autora do livro "Redes Sociais na Internet", Recuero diz que a rede obriga o contato com quem é diferente, e isso faz com que ideias entrem em choque. "Pessoas de opiniões diferentes compartilham círculos em comum."

Para ela, como as pessoas não veem com quem estão interagindo, tendem a ser mais agressivas. "Isso gera muito conflito, mas gera interação".

"A pessoa que já conhece a ferramenta se incomoda com quem acaba de chegar", diz Monteiro. "Mas o iniciante está fazendo a mesma coisa que o incomodado fazia quando começou a usar o aplicativo. É um ciclo natural que vai sempre se repetir."

NICHOS DE MERCADO

Orkut, Facebook, Twitter, Instagram. Para Rodolfo Scachetti, 33, doutor em sociologia pela Unicamp, essas redes começaram com grupos mais restritos, e, aos poucos, o sucesso fez com que a expansão fosse inevitável.

Como o intuito da empresa é continuar crescendo, a busca será sempre por novos usuários. "Esgotado um território, busca-se outro."

Algumas empresas exploram a demanda por exclusividade. "Temos de ser mais espertos", diz Scachetti. "Há milhares de carros com a maçã colada nos vidros. Não se trata de exclusividade, mas de percepção de exclusividade."

"A Apple tem um posicionamento de marca reforçado por sua política de preços altos -que valoriza o atributo 'exclusividade' dos seus produtos-, mas faz produção em série."

(LUCAS SAMPAIO)

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