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Invenção do anexo em e-mail completa 20 anos

Primeiros arquivos incorporados foram música e foto da banda do inventor

Criador da ferramenta queria que músicas e imagens fossem integradas diretamente às mensagens

PATRICK KINGSLEY
DO "GUARDIAN"

Há 20 anos, cem nerds norte-americanos pioneiros da internet abriram suas caixas de entrada de e-mail e encontraram uma mensagem bizarra. Ela continha dois anexos.

O primeiro era uma foto do Telephone Chords, um quarteto vocal formado por quatro pesquisadores de tecnologia. A segunda era uma gravação de "Let Me Call You Sweetheart", peça comum no repertório do quarteto.

Mas o mais estranho não era o conteúdo anexado e sim o fato de que ele estava anexado. A mensagem portou o primeiro anexo de e-mail funcional de todos os tempos -pelo menos o primeiro que os destinatários conseguiam abrir sem que fosse preciso possuir o mesmo sistema de e-mail que o remetente.

E o remetente era o tenor do quarteto vocal em questão -o sujeito rubicundo e barbudo que ocupava a ponta direita da foto, com as sobrancelhas erguidas e um pulôver amarelo-ovo.

Passadas duas décadas e um dia, o pulôver de Nathaniel Borenstein agora é cinzento. Mas ele continua a ter sobrancelhas tão espessas quanto as que a foto revela e está sentado de pernas cruzadas em um sofá, coçando o tornozelo e rindo sobre sua invenção.

Em 2012, enviamos a cada dia cerca de 1 trilhão de anexos MIME (o termo técnico para o sistema de padronização inventado por Borenstein e seu colaborador, Ned Freed), mas, em 1992, diz ele em entrevista concedida em Londres, anexos eram um nicho minúsculo.

"Havia muita gente que dizia que anexos eram um desperdício obsceno de banda", relembra Borenstein, que então trabalhava para a gigante das telecomunicações Bell (entenderam agora o motivo para o nome Telephone Chords?).

"As pessoas achavam que enviar e-mails grandes demais era antissocial. Não imaginavam que, com o tempo, as fotos seriam tiradas com câmeras digitais, e a internet seria de alta velocidade. Eu dizia às pessoas que eu um dia teria netos e gostaria de enviar fotos deles aos amigos, e todo mundo ria de mim."

Uma coisa sobre a qual Borenstein e Freed não conseguiram chegar a um acordo foi quanto a um nome. "Odeio a palavra 'anexo'", revela Borenstein, ainda inconformado depois de 20 anos.

Isso acontece porque ele não desejava que os anexos fossem de fato anexos, mas sim que imagens e sons fossem incorporados ao e-mail.

"Eu me critico muito por isso", diz. "Um dos meus erros foi não fazer a distinção necessária entre os dois modelos. O resultado é que, se incluo uma imagem no corpo de um e-mail hoje e o envio com um Mac, para muitos computadores padrão PC ela só aparecerá como um link de anexo. Foi o segundo mais embaraçoso entre os erros que cometi."

E o primeiro? "Cada objeto MIME desperdiça 19 bytes", ele confidencia, em referência ao fato de que cada anexo inclui 19 bytes de código redundante.

"No geral, estamos desperdiçando 7 Pbytes ao ano. Mas só não gosto por motivos estéticos. Afinal, estamos falando de 19 bytes em um e-mail de 3 Mbytes!"

Outros arrependimentos? Apenas um: "Recentemente, estudei aquela gravação com muito cuidado -e acho que semitonei em duas notas".

Em uma reunião do Telephone Chords uma semana atrás, ele pôde finalmente corrigir o erro.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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