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Luli Radfahrer

O turismo revisitado

Não há mais viagens inéditas. Praticamente todos os destinos estão descritos na rede

O Turismo já foi mais surpreendente. Destinos exóticos como Istambul, Timbuctu ou o Taiti um dia viveram, como Paris ou Nova York, no imaginário coletivo por décadas, às vezes por vidas inteiras, até que um dia, em uma ocasião especial, fossem transformados em realidade.

Mesmo depois da globalização, do barateamento das passagens aéreas, da expansão das cadeias hoteleiras e da popularização dos pacotes de viagens, a perspectiva de visitar uma nova cidade em uma cultura diferente trazia consigo um componente de mistério e exploração, reforçado pela complexidade das reservas e pela mágica das poucas imagens presentes nos guias e pôsteres turísticos.

Objetos de culto e fetiche, carnês de passagens e etiquetas de identificação de malas transcendiam sua função utilitária para serem guardados em álbuns de memórias, junto a fotografias e seus negativos, sujeitos à deterioração pelo tempo.

Hoje a situação é muito diferente. A popularização de câmeras digitais, comunidades on-line e serviços de comércio eletrônico mudou dramaticamente a experiência de viajar e, com ela, o segmento de turismo, tirando de seus agentes a mística dos portadores de um código hermético. Quem sobreviveu a essa revolução silenciosa se viu forçado a assumir, conforme a necessidade, a função de consultor ou de despachante, já que as funções que realizava como intermediário desapareceram ou passaram a ser executadas diretamente.

Neste futuro pouco anunciado em que boa parte das viagens começa pelo Google, passa por dicas e fotos de turistas desconhecidos, é monitorada por aplicativos e termina registrada no Facebook, o viajante não é mais aquele ingênuo caricato. Seu planejamento começa bem antes de sair de casa e pode incluir mapas e roteiros completos, previsão do tempo, estimativas de custos, informações de acomodação, reservas, telefones de emergência e recomendações de programas. Boa parte dessas informações é gerada automaticamente pelas bases de dados dos grandes agentes on-line ou pode ser baixada a custo zero da Wikipédia e de serviços noticiosos. Usuários de smartphone que não se assustarem com tarifas de roaming podem ter à mão centenas de aplicativos agindo como facilitadores locais.

Até mesmo os viajantes mais tradicionais, que compram quilos de guias de papel e revistas de turismo, não resistem a dar uma olhadela em fotos e mapas on-line e, sempre que possível, conferir preços e reputações dos lugares a que pretendem ir. Hoje que há mais de 2 bilhões de pessoas on-line e quase três vezes esse volume com celulares é cada vez mais comum navegar na internet antes de fazê-lo ao vivo. Alguns comportamentos já comuns nos Estados Unidos ainda causam surpresa em países de menor infraestrutura. A maioria dos usuários do buscador Priceline.com, por exemplo, reserva hotéis a um dia da viagem, e boa parte deles depois de ter chegado ao destino.

O novo turismo, auxiliado por tecnologias digitais, tende a ser cada vez mais popular. Por mais que suas informações removam parte da mística de viajar e tragam uma sensação de déjà-vu, não se pode negar sua praticidade. É sempre válido lembrar, no entanto, que nem toda informação é confiável e nem toda foto deve ser compartilhada, ainda mais agora que TVs interativas trazem o social para dentro da sala de casa.

folha@luli.com.br

ANDRÉ CONTI

escreve neste espaço na próxima semana

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