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Entrevista Mike Comberiate

Em 50 anos, robôs humanoides serão muito mais comuns

Engenheiro que trabalhou 44 anos na Nasa prevê explosão da robótica e diz que chegar à lua hoje seria tão difícil quanto em 1968

YURI GONZAGA
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Mike Comberiate, 64, acaba de se aposentar da Nasa, onde trabalhou durante 44 anos.

Excêntrico, enérgico e doce, tem centenas de fotos nas quais aparece plantando bananeira -em lugares que vão desde a Muralha da China até o Pão de Açúcar, passando pela Antártida.

Agora um "caçador de talentos" para seu acampamento de robótica (geeked.gsfc.nasa.gov), visita Recife para participar da Campus Party, que começou na última quinta-feira e termina hoje.

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Folha - O que significou entrar na Nasa?

Mike Comberiate - Era o fim da Segunda Guerra. Todo o mundo queria trabalhar lá -e também era um sonho meu. Fui um dos poucos que tiveram êxito.

Uma vez lá, o que fez?

Entrar na agência me deu um álibi para fazer o que eu queria: encarar desafios cada vez maiores. Dei literalmente mais de 30 voltas ao mundo. Ajudei a conectar via satélite os polos Norte e Sul, além de colocar uma placa com meu nome na Lua -porque uma das tranqueiras que eu construí acabaram se chocando com ela [risos].

Como a tecnologia evoluiu nesses 44 anos?

Se quiséssemos chegar à Lua hoje, isso seria tão difícil quanto era na década de 60. Na verdade, é bem possível que nunca o teríamos feito se não existissem os russos. Era uma mentalidade de guerra: "Faça-o ou você vai morrer". Por isso, podíamos fazê-lo por fazer, gastando o dinheiro que fosse necessário.

Hoje, é necessário acumular uma pilha de documentos científicos e burocráticos maior que um foguete antes de lançar um.

Então você prefere a mentalidade de guerra?

Acho que a inovação acontece quando a humanidade está em crise -e a guerra gera crise. A mentalidade de guerra é o que eu tento reproduzir no meu acampamento de robótica.

E qual é o objetivo disso?

Há pessoas que nasceram para trabalhar sob pressão. Escolho as melhores pessoas para isso e, no acampamento, aplico desafios como criar robôs movidos a energia solar e eólica para estudar a Groenlândia. Por enquanto, eu banco tudo, mas a meta é que uma hora o trabalho seja suficientemente bom para que os jovens vivam disso.

Como você enxerga o mundo daqui a 50 anos?

Nas próximas décadas, veremos uma evolução explosiva da robótica. Haverá muito mais robôs humanoides. Acho isso bom, porque ainda há muitas tarefas perigosas ou pouco saudáveis que podem ser feitas por robôs.

Isso não lhe dá medo?

Ainda não. Mas espero que possamos chegar a esse ponto.

Você acha que chegaremos lá, se depender do ritmo de destruição do planeta?

Se somente fizéssemos o que manda o senso comum, o meio ambiente já estaria muito melhor. Com o aumento da consciência -em parte graças à internet- imagino que haverá uma virada nesse sentido.

O Brasil, país que está deixando o terceiro mundo para se alçar ao primeiro, encara o grande dilema que é lidar com esse recurso [natural] imenso enquanto se desenvolve.

Seria idiota acabar com a floresta para colocar arranha-céus no lugar. Mas eles devem existir -no Recife e em São Paulo.

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