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Luli Radfahrer

Mais rápido, mais alto, mais forte

O que esperar quando o ser humano se aproxima dos limites do desempenho esportivo? Ciborgues

Desafiando a lógica, certos atletas olímpicos alcançaram façanhas sobre-humanas, o que mostra a influência da alimentação e da tecnologia de treinamento no desempenho. Mas até os mais otimistas percebem que a curva de progresso se aproxima de seu limite físico. As exceções começam a rarear, e as próximas conquistas tendem a ser milionésimas.

Mas surgem pistas do que serão os novos limites a alcançar. Algumas poderão ser vistas a partir desta semana. Os Jogos Paraolímpicos, até agora primos pobres das Olimpíadas, desprezados pela mídia e por grandes patrocinadores, podem se tornar uma espécie de Fórmula 1 do atletismo e da ginástica, em que pessoas com limitações físicas testam protótipos em um espetáculo de integração e criatividade.

Criados para enfatizar a superação humana, os Jogos Paraolímpicos começaram com alguns veteranos de guerra no Reino Unido e foram abertos para atletas civis em 1960. Mas até a Paraolimpíada de Pequim eles ainda eram vistos como um evento de segunda classe, cuja entrada só deixou de ser gratuita em 1996, mesmo assim com pouco sucesso. Esta é a primeira competição em que todos os 2,5 milhões de ingressos foram esgotados.

Atletas paraolímpicos já superaram a história lacrimosa que acompanha a visão restrita de pessoas com necessidades especiais. O avanço das tecnologias faz com que as próteses deem a seus usuários condições reais de competir com atletas olímpicos. Com duas pernas mecânicas, Oscar Pistorius fez história ao se classificar para a Olimpíada de Londres e chegar às semifinais dos 400 m rasos no atletismo.

Intervenções menos evidentes, proporcionadas por biotecnologias, nanotecnologias e terapias genéticas, podem abrir para debate a fronteira dos limites do corpo humano, tirando da ficção o sonho de ciborgues, organismos parte máquina.

Apesar de o nome ter sido proposto nos anos 1960 como forma de sobreviver no espaço, a ideia já é popular desde a Revolução Industrial, explorada em contos de Edgar Allan Poe, Frankensteins diversos e até nos poemas de Fernando Pessoa, que, sob o heterônimo Álvaro de Campos, queria ser capaz de se exprimir como um motor, de ser completo como uma máquina.

Sem muito alarde, homens biônicos já estão entre nós. Portando marcapassos, implantes auriculares e bombas de insulina, muitas pessoas devem suas vidas funcionais a intervenções tecnológicas autônomas. Não tardará para surgirem chips e implantes conectados que aumentem o desempenho, a resistência e o intelecto de pessoas comuns. Fanáticos religiosos e reacionários diversos reclamarão, mas a realidade é que, desde o Homo habilis, usamos ferramentas para expandir nossas capacidades. O que há de errado em controlá-las com o cérebro, em vez das mãos?

Impacientes com a prudência da medicina, alguns artistas, cientistas malucos, carentes desesperados por atenção e alternativos começam a "envenenar" a máquina humana, debatendo seus resultados em fóruns que reúnem tribos urbanas tão variadas como hackers e fisiculturistas. Realidade aumentada é isso.

Ao resto de nós, só resta especular, como Hamlet, sobre os sonhos a serem tidos quando nos desembaraçarmos deste fardo mortal.

folha@luli.com.br

ANDRÉ CONTI
escreve neste espaço na próxima semana

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