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Crítica reportagem

Com humor, livro recria saga de robô perdido

"How to Build an Android" relata o sumiço do computador que imitava o cultuado escritor de ficção Philip K. Dick

Australiano David Dufty conta detalhes de todo o processo de construção da máquina

RODOLFO LUCENA
DE SÃO PAULO

Não se deixe enganar pelo título. "How To Build An Android" ("Como Construir um Androide") está longe de ser um manual prático, cheio de orientações passo a passo para montar em casa um robô com aparência humana.

Ao contrário, trata-se quase de um romance, relato de uma aventura científica neste mundo cada vez mais cibernético, com pitadas de mistério e doses generosas de bom humor.

O mote para a reportagem -talvez seja essa a melhor definição do caráter do livro- escrita pelo cientista australiano David Dufty é o desaparecimento da cabeça robótica de Philip K. Dick, um androide construído à imagem e semelhança do cultuado autor de ficção científica, mais conhecido por ter escrito o conto em que foi baseado o filme "Blade Runner - O Caçador de Androides".

Em dezembro de 2005, um jovem construtor de robôs esqueceu em um avião uma sacola esportiva em que carregava a cabeça do androide, uma bela criação que misturava arte e tecnologia.

A máquina era capaz de conversar, reconhecer seus interlocutores e expressar emoções condizentes com o que via ou falava.

Só muito mais tarde, quando já desembarcara de um segundo voo e esperava as malas no carrossel de bagagens, David Hanson, o construtor do androide, se deu conta da perda do robô.

QUASE HUMANO

Feita de plástico, a cabeça esquecida era coberta com um material sintético que imitava a pele humana chamado Frubber e movimentado por micromotores para ganhar expressividade.

Usava câmeras para ver e alto-falantes para falar; um complexo sistema de inteligência artificial lhe permitia conversar e dar respostas similares às que supostamente Dick daria. Hanson, que levava o androide para uma apresentação na sede do Google, ficou atordoado.

Por horas a fio, fez o que pôde para tentar recuperar o precioso cérebro -tempos depois, processou a companhia aérea e exigiu US$ 750 mil (mais de R$ 1,5 milhão) como reparação dos danos; não teve sucesso. A cabeça não apareceu.

O mistério, que muito provavelmente seria apreciado pelo próprio Philip K. Dick, deu ensejo a um sem número de piadas na comunidade de fãs do escritor, entre blogueiros de tecnologia e até em grandes veículos de comunicação: anos mais tarde a BBC de Londres transmitiu um seriado chamado "Bring Me The Head of Philip K. Dick" ("Traga-me a Cabeça de Philip K. Dick").

MONTAGEM DA CABEÇA

Dufty, porém, não escorrega no anedotário. O cientista fazia pós-doutorado na Universidade de Memphis (EUA) na época em que um grupo daquela instituição trabalhou no desenvolvimento da inteligência do androide. Acompanhou de perto o trabalho de seus colegas.

Talvez por isso tenha sido capaz de contar em detalhes todo o processo de montagem do androide, tanto dos desafios envolvidos em sua construção física como nos ainda mais trabalhosos processos para criar as bases de conhecimento e capacitar o cérebro artificial a usar os dados.

Dufty faz isso de forma simples, clara, atraente. Mergulha por vezes na obra de Philip K. Dick, relembra textos e ações do autor, navega pelo mundo da ficção científica. E apresenta transcrições das curiosas e até certo ponto divertidas conversas do robô.

A cabeça de Philip K. Dick nunca foi encontrada, mas o conhecimento empregado na sua construção foi posto em bom uso -que o diga a Hanson Robotics, empresa de David, o criador de androides.

HOW TO BUILD AN ANDROID

AUTOR David Dufty
EDITORA Henry Colt and Co.
QUANTO US$ 26 (edição de capa dura, 288 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo

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