Índice geral Tec
Tec
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Teatro geek

Lado sombrio da história da Apple é tema de monólogo em Nova York; ator alemão vive dono da Microsoft

RODOLFO LUCENA
COLUNISTA DA FOLHA

Mike Daisey é um homem com uma missão: expor ao mundo os males da Apple e o lado sombrio de seu ex-presidente Steve Jobs, morto de câncer no mês passado.
Ator premiado, Daisey viaja pelos EUA -além de paradas em outros países- com o monólogo "The Agony and The Ecstasy of Steve Jobs", atualmente em cartaz em Nova York, onde fica até 4 de dezembro em um teatro fora do circuito da Broadway.
Criado por Daisey, que ocupa o centro do palco sentado a uma mesa de estrutura de alumínio e tampo de vidro, o espetáculo de duas horas revê a história da Apple e expõe a paixão do ator pelo design elegante e pela tecnologia dos produtos da empresa.
Aos poucos, Daisey mergulha na nebulosa área da fabricação de iPads, iPhones e congêneres, terceirizada para empresas da China. É então que "A Agonia e o Êxtase de Steve Jobs" -que não tem texto escrito, é recriada a cada performance- ganha seus contornos mais dramáticos.
Daisey aborda a exploração de mão-de-obra infantil e o regime de trabalho imposto a funcionários da Foxconn, a mais famosa empresa chinesa contratada pela Apple.
As revelações são baseadas em uma visita que o ator fez à China no ano passado. Posando como empresário e potencial cliente, circulou pelas instalações da Foxconn e conversou com vários trabalhadores. Com linguagem apaixonada, faz com que o público acompanhe sua trajetória rumo ao conhecimento.
Steve Wozniak, cofundador da Apple, viu a peça em fevereiro, em Berkeley. "As coisas chocantes mostradas por Mike me levaram às lágrimas. Ele vivia a dor que relatava", disse ao "Bay Citizen".
A situação da Foxconn, onde funcionários cometeram suicídio, também foi exposta na imprensa internacional. Sobre elas, um porta-voz da Apple afirmou que a empresa "exige de seus fornecedores os mais altos padrões de responsabilidade social".
Em Nova York, a peça estreou poucos dias após a morte de Jobs. Oskar Eustis, diretor artístico do Public Theatre (www.publictheater.org), onde o monólogo está em cartaz, distribuiu comunicado expressando condolências à família e dizendo:
"Steve Jobs teve um impacto enorme em nossas vidas; de muitas maneiras, o mundo que ele deixou para nós é o que ele criou. Este é um momento perfeito para contemplar aquele mundo, seus valores e suas práticas, e decidir que partes de seu legado devemos abraçar e que partes devemos rejeitar."

NOVO FINAL
À Folha, o ator Mike Daisey afirmou que mudou o texto quando Jobs deixou a Apple e que reescreveu o final da peça quando ele morreu. "A peça muda o tempo todo. Quando Jobs morreu, decidi tornar o final mais sombrio. Porque antes ele tinha a possibilidade de fazer alguma coisa e, agora, não mais."
A cruzada de Daisey não acaba quando as luzes do teatro se acendem. Na saída, o público recebe panfletos que começam com a provocadora pergunta: "O que acontece a seguir?" A resposta, assinada com as iniciais "MD", é "depende de você".

Colaborou VERENA FORNETTI, de Nova York

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.