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Jovem vende suas posses, mas não desiste dos gadgets
Kelly Sutton, 23, se livrou de quase tudo que tinha, mantendo apenas a tecnologia; hoje se sente "livre"
Engenheiro de software quase não usa mais livros ou até mesmo DVDs; internet é fonte do trabalho e diversão
CARLOS OLIVEIRA
DE SÃO PAULO
Kelly Sutton, nova-iorquino de 23 anos, precisava revezar seu tempo entre Berlim
e Nova York para seu trabalho de engenheiro de software. Cansado de empacotar
suas coisas, pensou numa
solução nada ortodoxa.
"Eu tinha deixado umas
dez caixas de tranqueiras
com amigos em Los Angeles.
No fim do verão, não lembrava o que havia nas caixas.
Decidi que, se não me lembrava das coisas, provavelmente não valia a pena tê-las", disse à Folha.
Inspirado pelo livro "Trabalhe 4 horas por semana",
de Timothy Ferris, Kelly decidiu que conseguiria guardar
tudo que tem em duas caixas
de 50 cm3 e duas malas pequenas.
Nerd assumido, o engenheiro criou o site Cult of
Less (cultofless.com) -algo
como "culto ao menos"-,
em que catalogou todos os
seus pertences, de carro, bicicleta e cuecas a MacBook,
iPad e Kindle, e começou a
realizar as vendas, sempre
pela internet.
Estava decidido, contudo,
a não vender um tipo específico de propriedade: a tecnologia."Não acho que abriria
mão do meu computador. É
minha fonte de renda, planejamento e diversão. Você não
pediria a um fazendeiro para
viver sem sua enxada ou seu
cavalo. Assim, não pediria
para um engenheiro de software para viver sem seu computador", argumenta.
Em menos de quatro meses, atingiu seu objetivo.
Hoje, Kelly lê quase sempre por meio de seu Kindle ou
de seu iPad, fugindo dos livros. Assiste a programas, seriados e filmes no seu MacBook, dispensando DVDs.
Para ver programas não disponíveis na internet, vai a
um bar. Para lavar roupas, visita um serviço de lavanderia
perto de onde mora.
O engenheiro faz parte de
uma geração que está se desapegando cada vez mais das
mídias físicas. Entretanto, a
tecnologia tornou-se parte
tão fundamental do cotidiano que vai além do materialismo que critica: ela virou
necessidade básica.
Kelly acredita que seu estilo de vida não se sustentará
quando tiver uma família,
mas diz que não desistirá de
ter apenas o necessário.
"Agora, a cada compra
que faço, me pergunto: Preciso mesmo disso? (...) Acabei
comprando menos coisas,
mas coisas mais legais", diz.
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