|
Texto Anterior | Índice
#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
O messias que não virá
NA INDÚSTRIA de tecnologia
é comum a figura corporativa
do messias inovador, que
emerge das trevas com uma
solução mágica. Por causa do
iPad, Steve Jobs está na moda
de novo, pentacampeão que
já trouxe o micro, o Mac, a Pixar e o iPhone. Profissionais
como ele dominam a atenção
em uma sociedade controlada pelos desejos de consumo.
Por mais que se valorizem
os progressos da ciência,
quase ninguém sabe de nomes eméritos em qualquer
área que não seja a de aparelhinhos eletrônicos e serviços
digitais. Enquanto todos se
concentram no produto final,
a infraestrutura é deixada de
lado. Cabos e planilhas não
têm charme. Saúde e educação, muito menos.
Uma boa prova está em Bill
Gates, que se aposentou e foi
tratar de malária. Há quanto
tempo você não ouve falar dele? Sua fundação salva mais
vidas do que qualquer celebridade que adote bebês,
mas não é tão chique quanto
os aviões que a Virgin pretende colocar na rota da Lua.
O acesso às tecnologias
eletrônicas pessoais deixa
um rastro bem visível de lixo
eletrônico e de gargalos de infraestrutura.
A África é um bom exemplo: quem vê uma foto noturna do planeta talvez não repare que boa parte do continente é, efetivamente, negra.
Por desinformação ou preconceito, pode ser que acredite que seja assim porque lá só
tem selva. Dificilmente pensará que isso acontece por
falta de distribuição regular
de energia.
Sem eletricidade estável,
computadores queimam e
não há luz para aulas ou hospitais à noite. Saúde e educação continuada se tornam
precárias e as diferenças sociais só aumentam.
A infraestrutura de energia
é um problema cada vez mais
sério. É preciso investir na
busca de formas alternativas
de coleta e distribuição antes
que cheguemos ao ponto em
que, mesmo com Belo Monte,
o sistema não dê mais conta.
Um bom caminho poderia ser
a criação de uma rede inteligente, que cobre pelo consumo como a telefonia o faz: por
hora e tipo de uso.
Inclusão digital já foi fator
de riqueza, hoje é de educação. Logo será de estrutura. É
preciso preparar o país para
a rede e resolver os problemas de desigualdade enquanto são administráveis.
Hoje quase todos têm computadores. É o que se faz com
eles que importa.
O messias não virá, mas
pode ser criado aqui.
Texto Anterior: Escore Índice
|