São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

Breve, cruel e despretensioso

SE O TWITTER e as tecnologias que o embasam fossem populares desde o início dos tempos, um soldado grego bem poderia ter escrito de dentro do cavalo de Troia algo como "Ninguém vai ser burro de empurrar um carro na forma de cavalo, recheado de soldados tentando segurar o riso, pra dentro da sua cidade. #troia".
Esse e outros textos curtos e despretensiosos, feitos por anônimos sem maiores preocupações com tradição, respeito ou mesmo pontuação, transformariam uma modorrenta lição de história em uma experiência envolvente, divertida e interativa.
Pensando nisso, dois geniais (e provavelmente desocupados) humoristas ingleses escreveram um livrinho brilhante: "The History of The World Through Twitter" (A História do mundo pelo Twitter). Ele "seleciona" momentos da história pelo ponto de vista breve, cruel, rápido e despretensioso de possíveis testemunhas oculares de momentos importantes que não viam muita graça no que estava acontecendo e, entediadas, resolveram compartilhar sua indignação.
O resultado, algumas vezes óbvio, outras um pouco hermético, é irônico como a própria vida. A cena de Jesus, crucificado, tuitando a Deus para perguntar por que foi abandonado e recebendo uma mensagem automática de ausência do escritório é um bom exemplo.
Narrativas repercutem melhor quando há empatia. É fácil se esquecer de que a história -pessoal ou global, de empresas ou países, de dias comuns ou grandes feitos, de anônimos ou celebridades- é construída em sua maioria por fatos que só serão reconhecidos ou esquecidos em um futuro imprevisível.
Ao registrar sem edição instantâneos vividos, as mídias sociais são bem mais eficientes para mostrar o espírito dos tempos do que qualquer cientista social.
Em uma época cheia de dados fáceis e vazia em sua interpretação, as emoções compartilhadas têm cada vez mais valor. Alguns dos melhores produtos e serviços digitais entenderam isso e passaram a se comportar como se computadores e redes não existissem e a relação voltasse a ser pessoal e dedicada.
Por mais que governos e empresas tentem controlar a opinião pública, restringir o acesso a redes sociais está cada vez mais parecido com limitar a liberdade de expressão. Não importa se a desculpa é sigilo, foco ou eficiência.


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