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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
Breve, cruel e despretensioso
SE O TWITTER e as tecnologias que o embasam fossem
populares desde o início dos
tempos, um soldado grego
bem poderia ter escrito de
dentro do cavalo de Troia algo como "Ninguém vai ser
burro de empurrar um carro
na forma de cavalo, recheado
de soldados tentando segurar
o riso, pra dentro da sua cidade. #troia".
Esse e outros textos curtos
e despretensiosos, feitos por
anônimos sem maiores preocupações com tradição, respeito ou mesmo pontuação,
transformariam uma modorrenta lição de história em
uma experiência envolvente,
divertida e interativa.
Pensando nisso, dois geniais (e provavelmente desocupados) humoristas ingleses
escreveram um livrinho brilhante: "The History of The
World Through Twitter" (A
História do mundo pelo Twitter). Ele "seleciona" momentos da história pelo ponto de
vista breve, cruel, rápido e
despretensioso de possíveis
testemunhas oculares de momentos importantes que não
viam muita graça no que estava acontecendo e, entediadas, resolveram compartilhar
sua indignação.
O resultado, algumas vezes
óbvio, outras um pouco hermético, é irônico como a própria vida. A cena de Jesus,
crucificado, tuitando a Deus
para perguntar por que foi
abandonado e recebendo
uma mensagem automática
de ausência do escritório é
um bom exemplo.
Narrativas repercutem melhor quando há empatia. É fácil se esquecer de que a história -pessoal ou global, de
empresas ou países, de dias
comuns ou grandes feitos, de
anônimos ou celebridades-
é construída em sua maioria
por fatos que só serão reconhecidos ou esquecidos em
um futuro imprevisível.
Ao registrar sem edição
instantâneos vividos, as mídias sociais são bem mais eficientes para mostrar o espírito dos tempos do que qualquer cientista social.
Em uma época cheia de
dados fáceis e vazia em sua
interpretação, as emoções
compartilhadas têm cada vez
mais valor. Alguns dos melhores produtos e serviços digitais entenderam isso e passaram a se comportar como se
computadores e redes não
existissem e a relação voltasse a ser pessoal e dedicada.
Por mais que governos e
empresas tentem controlar a
opinião pública, restringir o
acesso a redes sociais está
cada vez mais parecido com
limitar a liberdade de expressão. Não importa se a desculpa é sigilo, foco ou eficiência.
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