São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2011

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ANDRÉ CONTI

A caixa preta


Na época do DOS, a gente trocava disquetes, comandos e, o mais importante, xeroxes dos manuais


Em 1992, não havia nada melhor do que um computador com DOS. O sistema da Microsoft, com sua ominosa tela preta e seus comandos esotéricos, era onipresente, tendo desbancado o Apple II, o Commodore 64, o Amiga e mais uma porção de modelos. O primeiro que vi foi na casa de um amigo de escola, cujo pai era "importador e exportador". A gente ligava o troço e ficava olhando aquele "C:/" na tela, sem a mínima ideia do que fazer. Depois de tentar uma comunicação direta com o sistema ("Você está aí? Pode abrir um jogo para nós? Fazer um barulho?"), o negócio era recorrer às anotações do pai do meu amigo, que consistiam em umas siglas desconexas, numa caligrafia quase indecifrável. Com o tempo, aprendemos a navegar entre os diretórios e abrir programas. Algumas operações ainda eram absolutamente impossíveis, como descompactar um arquivo ZIP ou configurar um joystick. Outras eram aleatórias: instalar um jogo podia demorar qualquer coisa entre quinze minutos e dois meses. Jogos que estavam rodando paravam de funcionar. E jogos que nunca funcionavam podiam voltar à vida de um dia para o outro. Logo montamos uma rede de informações. Lembro bem que foi o Marcos, da escola, que descobriu como configurar a placa de som. A gente trocava disquetes, comandos e, mais importante de tudo, xeroxes dos manuais. Para evitar a pirataria, os jogos às vezes vinham com um sistema de proteção, que obrigava o jogador a procurar palavras e códigos específicos nas instruções. Você chegava na metade do jogo, e ele perguntava qual era a quarta palavra do segundo parágrafo da terceira página. Lágrimas. O PC vivia uma espécie de época de ouro, mas fui convencido por outro amigo a comprar um Mac. Era um baita computador, com seus 80 Mbytes de disco e 4 Mbytes de RAM. E o melhor, não era necessário digitar comandos nem ter conhecimentos básicos de cálculo. Uns cliques aqui, arrasta dali e pronto, todo o Tetris do mundo pra você. Mas não havia um décimo dos jogos de PC para Mac, e eles eram dificílimos de encontrar. Tornei-me um ávido frequentador de casas de amigos. Com o Windows 95, a Microsoft abandonou de vez a linha de comando, embora o DOS ainda rodasse por trás daquela lástima e fosse possível acessá-lo. Quem quisesse jogar os clássicos precisava guardar o 486 (66 MHz com o botão "Turbo" ligado). Hoje é possível rodar DOS em praticamente qualquer sistema operacional, graças a um software gratuito chamado DOSBox. O DOSBox simula um ambiente de DOS dentro de máquinas modernas, em muitos aspectos superior ao original. Como a maioria dos programas não é mais comercializada, pode-se baixá-los de graça na internet, embora haja muita polêmica em torno dos chamados "abandonwares". Uma alternativa mais simples é ir ao Good Old Games (www.gog.com), site especializado em jogos velhos, vendidos a preços camaradas. Graças a uma versão pré-configurada do DOSBox, eles funcionam como programas de Windows, sem comandos nem mandingas. Sem a velha e boa caixa preta. Mas eles vêm com os manuais em PDF e uma série de extras, então quem se importa.
andreconti@gmail.com
chorume.org

LULI RADFAHRER
Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer




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