São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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ENTREVISTA PAUL STEIGER

A web mudou o ritmo com que se produz informação

Editor de primeiro site a ganhar o Prêmio Pulitzer diz que jornalismo investigativo é essencial para a democracia

RODOLFO LUCENA
EDITOR DO TEC

Neste ano, pela primeira vez na história, uma organização jornalística on-line recebeu o Prêmio Pulitzer, a mais cobiçada distinção do jornalismo norte-americano.
O vencedor foi o ProPublica, site dedicado ao jornalismo investigativo, que publicou reportagem sobre supostos casos de eutanásia em um hospital de Nova Orleans, depois da passagem do furacão Katrina.
O site (propublica.org), que começou a funcionar em 2008, é dirigido por Paul Steiger. Nesta entrevista por e-mail, ele comenta o trabalho de sua organização e os desafios do jornalismo no mundo digital.

 

Folha - Por que o ProPublica foi criado?
Paul Steiger -
Nós e nossos financiadores criamos o ProPublica porque consideramos que o jornalismo investigativo estava em risco nos Estados Unidos. As empresas jornalísticas estavam demitindo repórteres investigativos porque o trabalho deles toma muito tempo e custa muito caro. Mas o jornalismo investigativo é essencial para a democracia, pois ajuda o público a acompanhar o trabalho de parlamentares e empresários, para que eles respondam por seus atos.

Quem sustenta o ProPublica?
Nossos financiadores incluem as fundações Sandler, Knight, Ford e outras que você encontra em www.pro publica.org/about/suppor ters. Não recebemos financiamento do governo.

Quantos jornalistas trabalham para o ProPublica? Eles recebem pagamento ou há muito trabalho voluntário?
Temos 32 jornalistas em nossa redação, todos contratados em regime integral. Temos também a Rede de Reportagem do ProPublica, que é um grupo voluntário de cerca de 5.000 jornalistas cidadãos, que contribuem com nossas investigações.

Você pode citar trabalhos do ProPublica que não poderiam ser produzidos na mídia tradicional?
Não acredito que nada do que fazemos seja impossível para a mídia tradicional. O problema é que eles estão fazendo cada vez menos o tipo de jornalismo em que nós nos especializamos.
A criação de uma de nossas ferramentas importantes, a nossa Rede de Reportagem, talvez tenha sido facilitada pelo fato de sermos uma organização sem fins lucrativos. Com essa rede, podemos pesquisar rapidamente um amplo leque de atividades de uma forma que não é possível para as empresas tradicionais, como monitorar a evolução diária de 500 projetos, distribuídos por todo o país, que têm financiamento do governo.
Nós podemos deixar um repórter trabalhando em uma história por um ano ou mais, enquanto a capacidade da mídia tradicional de fazer esse tipo de investimento está cada vez mais limitada.

Você acredita que a internet está mudando o jornalismo? Como?
A internet claramente mudou a velocidade com que se produz e publica informação. Sites como o nosso podem ter a internet como plataforma básica de publicação, permitindo que nossa produção chegue a qualquer um que tenha acesso à internet. A web também modificou de forma brutal a economia do processo de publicação de notícias.

E qual a importância das redes sociais?
Elas são obviamente importantes para o jornalismo e para o nosso trabalho. Serviços como o Facebook e o Twitter permitem que você se comunique com as pessoas de novas maneiras. Eles permitem que as pessoas compartilhem informações que são importantes para elas, e nós usamos essas ferramentas diariamente para ampliar o alcance de nosso trabalho.

Existe o jornalismo cidadão?
Use o termo que você quiser -jornalismo cidadão, reportagem distribuída, fontes múltiplas-, o fato é que trabalhar com mais gente amplia nossa capacidade de conseguir informações para nossas histórias. Nossa diretora de mobilização on-line, Amanda Michel, criou a Rede de Reportagem ProPublica no ano passado, e os quase 5.000 membros do grupo já tiveram papel importante em alguns trabalhos.

O jornalismo é uma atividade muito cara. Como pode sobreviver em um ambiente em que quase tudo é gratuito?
A web desagregou o jornalismo em muitos segmentos. Alguns segmentos podem ser produzidos a custos muito inferiores do que antes, como a divulgação de eventos ou lançamento de produtos. Outros, como reportagens investigativas ou manter correspondentes no exterior, exigem organização e gastos consideráveis.
Eu acredito que vamos encontrar alguma forma de financiar esse último grupo de atividades jornalistas, seja em organizações sem fins lucrativos, com fins lucrativos ou uma mistura dos dois modelos, pois há uma demanda por esse tipo de jornalismo.


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