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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
Papel, vinil e altas tecnologias
NÃO É PRECISO ser piloto,
entender como funciona a
torre de controle de um aeroporto ou ter conhecimentos
em mecânica dos fluidos para se pegar um avião. Parece,
aliás, que quanto mais se sabe a respeito de um assunto,
menor é a segurança que se
tem a seu respeito.
A ignorância não é, como
dizem, uma bênção. Ela é só
um simplificador. Já vai longe
o mundo mecânico em que as
engrenagens ficavam, todas,
à mostra. As tarefas são hoje
tão complicadas que já não é
mais possível olhar suas entranhas para desvendar seus
segredos. A forma segue cada
vez menos a função, ela depende progressivamente do
conteúdo. E do contexto.
As pessoas parecem não
querer mais saber como funcionam os aparelhos ou serviços, mas para que servem.
Cada nova interação propicia
o surgimento de "modelos
mentais", explicações baseadas em comportamento, nem
sempre com base na realidade. Um freio ABS treme quando acionado e, por isso, funciona melhor. Mas a sensação que passa é terrível. Todo
mundo consegue imaginar
uma freada brusca, e o barulho e o deslizamento fazem
parte dessa representação.
O papel e os discos de vinil
são exemplos de produtos
que resistem à digitalização.
Já faz décadas que anunciam
seu fim, e eles continuam a resistir. Não é saudosismo. Os
novos aparelhos simplesmente não são interativos o bastante para eliminar seus predecessores.
O disco de vinil, por exemplo, se transformou em um
instrumento musical. Qualquer um pode interagir com a
melodia tocada ao segurá-lo,
puxá-lo ou forçar sua rotação
enquanto toca. Sintetizadores podem ser bem mais sofisticados, mas ainda são complicados. E bem menos intuitivos do que um disco que gira
entre um prato e uma agulha.
O editor de textos facilitou
a criação, reprodução e alteração de conteúdos. Os leitores de e-books prometem eliminar bibliotecas caseiras.
Mas essas são apenas algumas das várias vantagens do
papel. Ainda há muito a melhorar nas tecnologias para
que sejam tão simples e baratas quanto a folha que, acompanhada do lápis e da borracha, resiste até à água.
O computador é uma grande invenção, o celular também. Eles são bem práticos.
Mas ainda há muito por fazer
até chegarmos a interfaces
tão amigáveis, transparentes
e interativas quanto aquelas
usadas antes de sua invenção.
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