São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

Papel, vinil e altas tecnologias

NÃO É PRECISO ser piloto, entender como funciona a torre de controle de um aeroporto ou ter conhecimentos em mecânica dos fluidos para se pegar um avião. Parece, aliás, que quanto mais se sabe a respeito de um assunto, menor é a segurança que se tem a seu respeito.
A ignorância não é, como dizem, uma bênção. Ela é só um simplificador. Já vai longe o mundo mecânico em que as engrenagens ficavam, todas, à mostra. As tarefas são hoje tão complicadas que já não é mais possível olhar suas entranhas para desvendar seus segredos. A forma segue cada vez menos a função, ela depende progressivamente do conteúdo. E do contexto.
As pessoas parecem não querer mais saber como funcionam os aparelhos ou serviços, mas para que servem. Cada nova interação propicia o surgimento de "modelos mentais", explicações baseadas em comportamento, nem sempre com base na realidade. Um freio ABS treme quando acionado e, por isso, funciona melhor. Mas a sensação que passa é terrível. Todo mundo consegue imaginar uma freada brusca, e o barulho e o deslizamento fazem parte dessa representação.
O papel e os discos de vinil são exemplos de produtos que resistem à digitalização. Já faz décadas que anunciam seu fim, e eles continuam a resistir. Não é saudosismo. Os novos aparelhos simplesmente não são interativos o bastante para eliminar seus predecessores.
O disco de vinil, por exemplo, se transformou em um instrumento musical. Qualquer um pode interagir com a melodia tocada ao segurá-lo, puxá-lo ou forçar sua rotação enquanto toca. Sintetizadores podem ser bem mais sofisticados, mas ainda são complicados. E bem menos intuitivos do que um disco que gira entre um prato e uma agulha.
O editor de textos facilitou a criação, reprodução e alteração de conteúdos. Os leitores de e-books prometem eliminar bibliotecas caseiras. Mas essas são apenas algumas das várias vantagens do papel. Ainda há muito a melhorar nas tecnologias para que sejam tão simples e baratas quanto a folha que, acompanhada do lápis e da borracha, resiste até à água.
O computador é uma grande invenção, o celular também. Eles são bem práticos. Mas ainda há muito por fazer até chegarmos a interfaces tão amigáveis, transparentes e interativas quanto aquelas usadas antes de sua invenção.


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