São Paulo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

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ACONTECIMENTO E PERSONALIDADE ESTRANGEIRA WIKILEAKS E JULIAN ASSANGE

WikiLeaks mostra furos da democracia

Reação à hemorragia digital de documentos pode ser mais reveladora que os próprios despachos confidenciais


O GOVERNO DOS EUA TRATOU DE FUSTIGAR O MENSAGEIRO, CONSIDERANDO ESPIONAGEM A AÇÃO JORNALÍSTICA


Carl Court - 17.dez.2010/France Presse
Julian Assange, fundador do WikiLeaks, fala à imprensa na Inglaterra

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE TEC

Entre chuvaradas tropicais no hemisfério sul e nevascas homéricas no norte, 2010 se encaminhava para seu final quando apontaram na curva o WikiLeaks e seu emblemático dirigente, o australiano Julian Assange. Qual hemorragia digital, o site, que desde 2006 abriga documentos confidenciais e denúncias de ações irregulares de governos e empresas, começou a publicar milhares de despachos secretos da diplomacia norte-americana.
Ao chacoalhar o verniz de suposta elegância com que são conduzidos os negócios diplomáticos, um punhado de ativistas armados de computadores e linhas de comunicação globais mostrou que a era informata é capaz de expor os detalhes mais recônditos (e, supostamente, protegidos) da ação de governos e corporações. A internet está aberta para todos, por mais controles que lhe tentem impor. Pode ser cenário do mais tosco besteirol e palco para as mais grandiosas ações, como é o caso do episódio WikiLeaks, eleito por jurados escolhidos pela Folha o acontecimento do ano, sendo Assange a personalidade estrangeira do ano.
O júri brasileiro não está sozinho. Os leitores da revista "Time" elegeram o australiano a pessoa do ano. A publicação, no entanto, ficou com Mark Zuckerberg, chefão do Facebook -por sinal, também uma plataforma em que a privacidade se esgarça.
A reação de governos e corporações ao episódio talvez seja mais reveladora de sua política pouco avessa à transparência e às agruras da democracia do que os próprios despachos publicados pelo WikiLeaks.
O governo dos EUA imediatamente tratou de fustigar o mensageiro, considerando espionagem a ação jornalística -os despachos diplomáticos revelados pelo WikiLeaks foram divulgados em parceria com um pool de jornais que inclui o britânico "The Guardian", o norte-americano "The New York Times" e a Folha.
Ao mesmo tempo, na Europa, fechou-se o cerco à movimentação física de Assange, atingido com um processo por supostos crimes sexuais cometidos na Suécia. Mas toda a ação parece ter como principal objetivo desqualificar o australiano, além de tirá-lo de cena.
A Amazon recusou-se a continuar abrigando o site em seu servidor, enquanto MasterCard, Visa e PayPal decidiram deixar de receber doações dirigidas ao site. O Bank of America somou-se ao torniquete financeiro.
"É um novo tipo de macartismo nos Estados Unidos para privar esta organização dos recursos de que precisa para sobreviver", disse Assange, referindo-se à caçada anticomunista liderada pelo senador Joseph McCarthy nas décadas de 40 e 50.
A comunidade internética contra-atacou. Hackers derrubaram ou dificultaram a operação de sites anti-WikiLeaks, servidores alternativos foram rapidamente erguidos e sistemas eletrônicos para receber doações estão em operação. Apesar das denúncias de boicote, funciona plenamente o perfil do WikiLeaks no Twitter, com 569.355 seguidores na tarde de sábado. Na mesma hora, no Facebook, 1.404.337 pessoas já tinham curtido a página do serviço.
E vem mais por aí, promete Julian Assange.


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