São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2011

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LULI RADFAHRER

Sólido como o ar


Hoje não existem mais empresas consolidadas, e a turbulência se tornou a nova calmaria


A aquisição da (divisão mobile da) Motorola pelo Google não deverá mudar quase nada no ansioso mundo da comunicação via smart-phones. Pelo menos quase nada que já não tenha sido mudado. A empresa que um dia já posou de Apple e impressionou o mercado com seu StarTac vai voltar a fabricar intercomunicadores para vigilantes ficarem na escuta e copiarem bem. A briga ficou grande demais para ela.
Desde que surgiu o primeiro Motorola -acredite, já foram sinônimos da categoria-, falava-se que smartphones promoveriam uma revolução. E, como sempre, o barulho foi inversamente proporcional ao impacto. "1998 será o ano da internet móvel", diziam os entusiasmados. Foi? Não que eu me lembre. Nem 99. Em 2000 teve o "bug do milênio". Logo depois, quebra da Nasdaq. Bolha dentro da bolha, a tecnologia não poderia ter aparecido em época mais errada. Quando tudo estava em ordem, a mídia só tinha espaço para falar (mal) da blogosfera.
Sorrateiramente, celulares foram se tornando mais espertos e baratos. Primeiro no Japão, depois em mercados de padrões consolidados, como França e Alemanha. Um pouco mais tarde, em lugares pequenos e inovadores, como a Suécia (Ericsson) e a Finlândia, que antes da Nokia talvez fosse conhecida pela exportação de papel e arenques.
Essa era uma época diferente, ingênua, quando mal existiam Twitter e Facebook, em que se acreditava que o Yahoo! tinha jeito, que a HP fabricava PCs, que a Apple se estabelecia como loja de música e que a Microsoft parecia ter entrado em depressão pós-Gates. Anos dourados da primeira década do século 21.
Hoje o que se vê é diferente: analistas acreditam que o Google pode, se quiser, imitar a Apple no que ela tem de pior e fechar o acesso ao sistema operacional Android, oferecendo-o só a telefones Motorola.
Se fizer isso, perderá uma boa fatia de mercado ao deixar Samsung, HTC e outras tantas completamente órfãs, mas poderá recuperá-la rapidamente, já que não há opção visível fora do eixo Apple-Android-BlackBerry.
Dificilmente a Sony voltará a esse mercado com a força de outrora, e qualquer nova ideia poderá ser comprada por um dos gigantes ou sufocada por guerras de patentes.
Nessa jogada de alto risco, o GoogleMOTO pode se tornar líder de um mercado muito mais lucrativo e restrito, passando a Apple antes de completar duas décadas de vida. Se os iProdutos não perderem o brilho depois da era Jobs, deverão ficar, como os Macs, em um honroso e arrogante segundo lugar. Outras empresas poderão correr para a Microsoft ou para algo novo que Amazon, Salesforce ou Facebook inventem.
Se nada der certo, o Google pode usar as patentes da Motorola para viabilizar de vez a YouTubeTV.
Tudo isso é só especulação. Uma coisa, no entanto, é inegável: pulverizações, concentrações e mudanças de opinião serão cada vez mais comuns daqui pra frente. Tudo o que uma empresa faz crer quando define solidamente sua visão, missão e valores pode se desmanchar no ar.
É preciso entender o novo cenário. Quem não o fizer tende a ficar cada vez mais genérico e perdido, rotulável como filme de Hollywood, definido de fora para dentro, fazendo de tudo para seguir modas só para atender demandas cada vez mais absurdas de um consumidor mimado. Pior, tende a fazê-lo rapidamente e sem planejamento, antes que surja um irresponsável que ocupe seu lugar.

folha@luli.com.br


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