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ENTREVISTA STEVE WOZNIAK
O outro Steve da Apple
COFUNDADOR DA EMPRESA QUE CRIOU O IPAD, STEVE WOZNIAK AFIRMA QUE KINDLE ESTÁ ENTRE SEUS APARELHOS FAVORITOS
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Marcel Antonisse - 19.nov.10/France Presse
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Steve Wozniak, cofundador da Apple, durante evento de tecnologia na Holanda
DIÓGENES MUNIZ
EDITOR DE MULTIMÍDIA
Poucos nerds têm o poder
de transformar o mundo por
meio da tecnologia. Steve
Wozniak, 60, é um deles. O
cofundador da Apple vem a
São Paulo para o evento de
cultura digital Campus Party,
em janeiro próximo.
Wozniak montou com Steve Jobs a Apple Computers
em 1976. Tinham 25 e 21 anos,
respectivamente.
"Eu queria ser um grande
engenheiro [da computação]", revela à Folha.
Já o parceiro Jobs tinha
pendor para grandeza: "Ele
queria ser um grande transformador do mundo".
Antes da Apple, Wozniak
foi funcionário de baixo escalão da Hewlett-Packard e da
Atari, assim como Jobs.
Tornaram-se amigos
quando descobriram, ainda
adolescentes, que gostavam
de pregar peças na vizinhança e de eletrônica.
Embora fossem tímidos e
deslocados, chegaram a se
fantasiar de personagens de
"Alice no País das Maravilhas" para ganhar uns trocados em um shopping center.
Não tinham a mais remota
ideia de que, poucos anos depois, fundariam numa garagem a empresa que é hoje a
segunda maior do mundo em
valor de mercado.
Wozniak é o autor do cultuado Apple II. Quando a máquina foi lançada, o jovem
"Woz" não tinha sequer diploma universitário.
O produto forjou, em 1977,
os moldes do que chamamos
por décadas de computador
pessoal.
A empresa foi responsável
ainda por difundir os sistemas operacionais com visual
gráfico, o mouse, os tocadores de MP3 e as telas sensíveis ao toque, num carrossel
de inovação que não raro
morde o próprio rabo ao sepultar suas apostas de anos
anteriores.
Na entrevista abaixo, realizada por e-mail, Wozniak
descreve sua relação com o
executivo-chefe da Apple
(apenas "cordial" hoje em
dia) e conta quais são seus
"gadgets" favoritos.
Folha- Como é sua relação
com Jobs hoje?
Steve Wozniak - Cordial.
Converso com ele ocasionalmente. Não com frequência.
Geralmente só dou um alô
para lembrarmos das coisas
do passado ou falar como algum produto é incrível.
Em biografias, vocês dois são
descritos como jovens tímidos e nerds. Concorda com
essa visão?
Concordo. Mas hoje em dia
tenho mais confiança. Também sei que posso ajudar
mais as pessoas, principalmente quando me procuram.
Quando éramos jovens, eu
queria ser um grande engenheiro [da computação]. Já
Jobs queria ser um grande
transformador do mundo.
Nós dois nos saímos muito
bem em relação às nossas
metas. Hoje em dia já estamos longe de ser "outsiders".
Claro que ainda tenho um
monte de manias bem estranhas ou incomuns. Presumo
que Jobs, por sua vez, seja
mais normal agora. E, por
fim, eu ainda sou completamente "geek", embora existam por aí várias categorias
de "geeks" diferentes.
Apesar de ter deixado a Apple
em 1985, o senhor ainda tem
ações da companhia, certo?
Sim, mas não mantive um
bloco muito grande das
ações originais.
Isso quer dizer que, desde a
ascensão da Apple, o senhor é
um bilionário?
Se levarmos em consideração o valor do dólar à época,
talvez eu tenha chegado a ser
bilionário. Mas desde então
já sofri muitas perdas por
conta de negócios [que não
deram certo]. Uma grande
quantia de capital foi dada
para instituições de caridade
e, além disso, já passei por
três divórcios.
Então acho que hoje em
dia essa afirmação está longe
de ser verdade.
Como o senhor vê a repetição
de histórias de empreendedores precoces da tecnologia
que se tornam multimilionários da noite para o dia?
Julgo o mundo a partir dos
produtos e de como eles funcionam na prática, e não por
quanto dinheiro eles trazem.
O senhor viu o filme "A Rede
Social", sobre o Facebook?
Sim, eu assisti. O filme é
OK, mas não chega a ser ótimo. Fiquei com a impressão
de que a obra é bem precisa
em vários aspectos: a forma
que encadeia os fatos e as interpretações que faz deles.
Mas tenho sentimentos
conflitantes com relação ao
fato de o investidor [o brasileiro Eduardo Saverin, que
injetou dinheiro na primeira
versão do Facebook e detém
5% da empresa] ter sido jogado para fora do projeto.
O senhor disse recentemente
que o Google deve tomar cuidado ou se tornará a nova Microsoft [vista com desprezo
pelos applemaníacos]. O
mesmo não pode ser dito sobre a Apple?
Tenho certeza que muitas
pessoas observam ambos,
Apple e Google, assim. Mas,
veja, a Microsoft fazia porcarias a partir do sistema DOS
enquanto a Apple avançava
sobre a interface gráfica para
sistemas operacionais.
Talvez estivéssemos muito
adiantados enquanto a Microsoft tinha mais participação no mercado, mas eles
vendiam porcarias e nós queríamos fazer bons produtos
para os clientes.
Conseguimos. A Apple
não faz produtos ruins hoje,
mesmo que precise flexionar
sua musculatura de participação no mercado.
Como o senhor vê o avanço
dos "tablets", cuja principal
missão parece ser a de matar
os computadores desktops?
O microprocessador fez
com que muitas coisas fossem possíveis. As peças periféricas de um computador
[como mouse e monitor] costumavam ser as partes mais
caras do produto.
Hoje em dia, elas estão
mudando rapidamente, permitindo a produção computadores bem menores (que
cabem na palma da mão)
com alta potência.
Mas eu não vejo esse retrato como uma competição, as
pessoas querem produtos
novos o tempo todo.
Qual é seu "gadget" favorito,
excluindo os da Apple?
Amo meus óculos de prisma que me permitem assistir
à TV deitado na cama. E o Game Boy original!
Sempre gostei de games,
quem não gosta? Hoje em
dia, prefiro esses jogos mais
antigos e simples, nos mais
modernos não consigo
acompanhar as crianças.
Também gosto de vários
sistemas de navegação
"stand-alone" [GPS independentes, com software pré-instalado], dos smartphones
e do MiFi [microrroteador
sem fio para acesso à internet
em alta velocidade]. E o Kindle, ele é ótimo, pequeno e
luminoso. Mas os produtos
da Apple são os melhores.
E qual é seu "produto favorito" que ainda não inventado?
Um computador com o
qual você possa conversar e
que vá te responder à altura,
que se saia muito bem em se
comportar como um ser humano, que seja amigável. Como usuário, não gosto de
pensar em todas as etapas
que precisam ser realizadas
para fazer coisas que podem
ser ditas em um instante.
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