São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011

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Guerra judicial põe em xeque limites do design de produtos

Briga de Apple e Samsung leva a debate sobre semelhança e cópia em tecnologia

Em sentença, juíza alemã considera que 'outros designs são possíveis'; detalhes fazem a diferença

BRUNO ROMANI

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ao barrar as vendas na Alemanha do Galaxy Tab 10.1, da Samsung, em processo movido pela Apple, a juíza do Tribunal Regional de Dusseldorf, Johanna Brueckner-Hoffman, justificou sua decisão dizendo que "outros designs são possíveis". Ela considerou os tablets das duas empresas muito parecidos.
A intensa disputa de patentes nos tribunais entre Apple e Samsung levantou um debate sobre qual a fronteira entre a semelhança e cópia para tudo aquilo que envolve um produto tecnológico -do hardware ao software.
A Folha ouviu especialistas para saber se é possível ser diferente quando duas empresas fabricam um produto na mesma categoria.
"É possível fazer muita coisa. O problema é que você fica entre dois lados. Por um, tem que ser diferente. Por outro, tem que seguir algo que o usuário já espera", diz Caetano Traina Júnior, professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos.
E norteando o trabalho de fabricantes e designers estão os ciclos na indústria.
"Existem ondas que forçam naturalmente os fabricantes a concentrar seus designs nos padrões vigentes. Houve a onda do flip, do clam shell, do slide, do candy bar. Hoje, os padrões touchscreen imperam e fazem com que os aparelhos variem apenas em alguns aspectos, como teclado e tamanho", diz Leonardo Marques, chefe de departamento da área de criação e técnica da ESPM-RJ.
Há alguns anos, por exemplo, o celular ideal era o menor possível. Hoje em dia, parece haver uma competição por quem tem a maior tela.

DETALHES TÃO PEQUENOS
Dada a simplicidade de smartphones e tablets -uma tela de vidro e poucos botões no corpo do aparelho-, a semelhança na harmonia final parece inevitável. As discussões, então, ficam por conta dos pequenos detalhes.
Discutem-se formas, cantos, ângulos, proporções, conectores, materiais, cores e até parafusos. Nesses aparelhos, a distância entre a última camada de tela e o contorno ou o próprio anel de contorno são aspectos importantes.
"Quando você junta esses elementos com qualidade, eles passam a ter um significado que não tinham separados. Ao mostrar tudo ao mesmo tempo, de uma certa maneira, e com uma certa configuração, você tem um produto atrativo aos olhos", diz Priscila Lena Farias, professora de design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
E as fontes de inspiração para o design são amplas. "O designer pode ir a uma feira em Milão e ver um copo, uma cadeira ou um carro e ser influenciado", explica Rodrigo Ayres, gerente de estratégias de negócios de celular da LG.
Steve Jobs, por exemplo, tinha notório apreço pelo trabalho de Dieter Rams, designer da empresa alemã de eletrodomésticos Braun.
Mas, nos tribunais, o que vale é o olho do leigo. Nos EUA, a violação da patente de designs usa um precedente de 1871 que diz: "Se, aos olhos de um observador ordinário, dois designs são substancialmente iguais -se a semelhança é tamanha que confunde o observador e o induz a comprar um produto pensando ser outro -o primeiro a patentear foi violado".


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