São Paulo, quarta-feira, 26 de outubro de 2011 |
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ANDRÉ CONTI Quando a geladeira quebra
NA SEMANA passada, dei de presente a um tio uma impressora nova e cheia de pompas tecnológicas: impressão sem fio, telinha sensível ao toque, "cores mais vivas" e uma sequência de funções semi-inúteis que eu não saberia listar. Escolher a impressora foi a parte fácil. Todavia, quando o telefone tocou algumas horas depois de a encomenda ter sido entregue, vi o que restava daquela noite de sexta-feira escapar pelos dedos. Poucas atividades humanas são mais frustrantes do que conduzir uma instalação pelo telefone. Coisas simples como "abrir uma janela" e "clicar no instalador" convertem-se em longos e infrutíferos diálogos entre dois estrangeiros perdidos no deserto. Mas meu maior erro foi ter investido na tal impressão sem fio. Redes de computador são entidades caprichosas e volúveis, desprovidas de sentimentos. Mais fácil desarmar uma bomba por telefone do que entender como aquele Wi-Fi estava configurado. Até que veio a lembrança: eu mesmo havia instalado a rede. Desde 1991, quando ganhei meu primeiro computador, presto consultoria a amigos e parentes. Por consultoria, entenda chamadas telefônicas nas horas mais impróprias, com dúvidas que vão do simples ("como eu mando um e-mail?") ao francamente esotérico ("toda vez que digito 'farofa', o Word trava, o que eu faço?"). No começo, pareceu uma troca honesta, quase uma consequência natural daquele investimento. Eu ganhei o computador. Nada mais justo do que acertar o relógio do videocassete alheio. Ainda assim, a responsabilidade é imensa, e há sempre forte carga dramática nessas operações. Mas, para cada "Fiz tudo que você mandou e agora é que não funciona mais", há sempre três antivírus instalados ao mesmo tempo, 400 programas abertos desde janeiro e uma xícara de café na bandeja do DVD. Com os anos, você é empurrado de técnico de computadores a especialista em eletroeletrônicos. O sábado se torna o dia perfeito para arrumar um aparelho de som (chave de força desligada), consertar uma secretária eletrônica Luís 14 (acabou a fita) e ajustar a imagem da TV (tapa na lateral). E ouse sugerir uma pesquisa rápida no Google. "Ah, não precisa, esquece. Obrigado", diz a voz fúnebre. E só resta explicar que não se trata de má vontade: você realmente não sabe como funciona um motor de geladeira. Nada, porém, é mais perigoso do que uma recomendação. Indique o notebook errado e sofra com anos de olhares repreensivos. Um aplicativo de iPhone, baixado com a melhor das intenções, pode deflagrar uma crise. E jamais sugira marcas de câmeras digitais: elas sempre estarão aquém das expectativas do futuro dono. Ao que tudo indica, a impressora do meu tio está funcionando. Apelei a um cabo USB, sob a vaga promessa de uma visita para configurar a impressão sem fio. Pelo que entendi, alguns jogos também desapareceram do computador, o celular não está sincronizando os contatos e o tocador de MP3 se recusa a tocar os projetos solo do Ringo. Dei uma olhada no Google e parece que vai ser um sábado de sol. chorume.org @andre_conti LULI RADFAHRER Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer Texto Anterior: Filho foi vítima de sequestro em abril deste ano Próximo Texto: Sra. Facebook Índice | Comunicar Erros |
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