São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2011

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Piada séria

Atos on-line podem ter impacto significativo na vida real, 'ligando as duas realidades', diz um dos fundadores do LulzSec

Luke MacGregor - 27.jun.11/Reuters
Ryan Cleary, 19, preso na Inglaterra, suspeito de ser afiliado ao grupo LulzSec

RYAN GALLAGHER
DO "GUARDIAN"

O grupo era muito audacioso e aparentemente sem temores. Entre as suas vítimas famosas estavam a Sony, a CIA, o FBI, o Senado norte-americano e até mesmo a agência britânica de combate ao crime organizado.
Expondo fragilidades em redes do governo e de corporações, o grupo vazou centenas de milhares de senhas invadidas e, no processo, reuniu mais de 250 mil seguidores no Twitter.
Mas, depois de apenas 50 dias, em 25 de junho, o LulzSec inesperadamente disse estar se separando.
Poucas horas antes desse anúncio, o "Guardian" havia publicado o vazamento de registros de bate-papo na internet revelando o funcionamento interno do grupo, que aparentava constituir-se de seis a oito membros.
Ryan Cleary, 19, residente de Essex e suspeito de ser afiliado ao LulzSec, foi preso durante uma investigação envolvendo a Grã-Bretanha e os EUA sobre crimes virtuais.
Haveria a pressão se tornado tão alta a ponto de não ser mais possível controlá-la?
A fim de investigar o caso, o "Guardian" localizou "Topiary", um dos membros fundadores do LulzSec.
Figura-chave no coeso grupo, ele foi identificado como o responsável por gerenciar a conta no Twitter do LulzSec e por ter escrito os comunicados do grupo à imprensa.
A imagem pública jovial do LulzSec, sem dúvida, ajudou-o a alcançar uma popularidade incomum num curto espaço de tempo. O seu objetivo declarado era oferecer "entretenimento de alta qualidade às suas custas", e a palavra "Lulz" é em si mesma uma gíria de internet para risos.
A popularidade do grupo subiu depois de ele ter plantado uma matéria falsa na agência de notícias americana PBS em protesto contra o que disseram ser um documentário distorcido sobre o WikiLeaks feito pela emissora.
A notícia falsamente relatava que o rapper Tupac Shakur, que morreu em um tiroteio há 15 anos, havia sido encontrado vivo e saudável na Nova Zelândia.
Embora muitos ataques do LulzSec tenham sido perpetrados "para o riso", o grupo foi acusado de atentado de extorsão por uma empresa de segurança americana, a Unveillance --acusação que Topiary nega enfaticamente.
O grupo também foi criticado após ter invadido e despejado on-line milhares de nomes de usuários e senhas de clientes europeus da Sony Pictures, alguns dos quais usados posteriormente em golpes por fraudadores. Mas Topiary não se ressente disso.
"A culpa é da Sony por não defender as informações de seus clientes. Em um mundo perfeito, teríamos despejado as informações, e nada teria acontecido. Esses golpes simplesmente provam que outras pessoas (nossos fãs/espectadores) são mais malvadas do que nós."

ATIVISMO
Rumo ao final do seu reinado, o LulzSec parecia gravitar em torno de causas mais claramente políticas.
O grupo chegou a se comparar nos tuítes com o WikiLeaks, e o seu penúltimo vazamento foi um esforço conjunto com o Anonymous a fim de expor a polícia do Arizona como "racista e corrupta".
O Anonymous é bem conhecido por suas ações de "ativismo hacker" político.
No início deste ano, o grupo assumiu a responsabilidade por ataques a sites dos governos da Tunísia, do Irã, do Egito e do Bahrein.
Topiary esteve fortemente envolvido com o Anonymous, atuando como seu porta-voz em entrevistas de TV.
"O Anonymous tem sido uma ótima forma de atrair as gerações mais jovens por meio de métodos que eles entendem, como usar a internet. Meu objetivo principal com o Anonymous foi espalhar uma palavra revolucionária entre aqueles que possam estar buscando algo novo."
Como ele define uma revolução? "Revolução é chutar o governo tunisiano nos dentes, tornando os códigos maliciosos de seu JavaScript inertes e permitindo aos cidadãos da Tunísia navegarem no Facebook sem o medo de terem suas senhas descobertas.
Revolução é uma horda de ativistas com máscaras do Anonymous, que nos agradece pela ajuda concedida no árduo trabalho de suprimir sites de governos e de mercados financeiros, substituindo-os por palavras inspiradoras."

LIGANDO AS REALIDADES
Embora Topiary não divulgue a sua idade, ele se descreve como um adolescente e "um habitante da internet com paixão por mudanças".
Ele acredita fazer parte de uma renovação geracional do modo como a tecnologia --especificamente a internet-- está cada vez mais sendo usada como uma ferramenta capaz de influenciar o mundo.
As ações do Anonymous, diz ele, atraíram atenção para a ideia de que atos on-line podem ter um impacto significativo na vida real --"ligando as duas realidades".
Mas ele também reconhece que as ações do Anonymous, do LulzSec e de outros hackers afiliados podem ser usadas por governos como justificativa para um controle maior da internet. Sendo assim, como ele equilibra as suas ações com essa possibilidade?
"Isso só resultará em maior controle do governo se permanecermos apáticos. O objetivo do Anonymous é cortar brutalmente essa decisão ao meio e gritar 'não' para leis com as quais não concordamos. As leis devem ser respeitadas quando são justas, não obedecidas sem nos questionarmos."

Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS


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