São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010

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Ciberataque tem possível pista bíblica

Stuxnet, vírus que teria sido feito para frear a corrida nuclear no Irã, faria referência a livro do Antigo Testamento

Uso da palavra Myrtus para nomear arquivo dentro do código é uma das pistas para rastrear a origem do programa

JOHN MARKOFF
DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

Em um vírus que alguns especialistas suspeitam ter o objetivo de retardar a corrida do Irã em busca de uma arma nuclear, está o que poderia ser uma referência fugaz ao Livro de Ester, uma história do Antigo Testamento na qual os judeus antecipam uma trama persa para destruir seus inimigos.
O uso da palavra Myrtus -que pode ser lida como uma alusão a Ester- para nomear um arquivo dentro do código é uma das várias pistas encontradas por especialistas que tentam rastrear a origem e a finalidade do nocivo programa Stuxnet.
Não surpreende o fato de os israelenses não dizerem se o Stuxnet tem conexão com a unidade secreta de ciberguerra construída dentro do serviço de inteligência.
Há várias explicações para Myrtus, que poderia significar simplesmente murta, uma planta importante para muitas culturas na região. Mas alguns especialistas veem a referência como uma alusão a Ester.
"Os iranianos já estão paranoicos com o fato de que alguns de seus cientistas tenham desertado e várias de suas instalações nucleares secretas terem sido reveladas", disse um ex-funcionário da inteligência que trabalha com questões do Irã.
Assim, um cartão de visitas no código poderia ser tanto parte de um jogo psicológico quanto de um desleixo ou uma extravagância por parte dos programadores.
O código tem aparecido em vários países, especialmente na China, na Índia, na Indonésia e no Irã. Porém há fortes indícios de que o programa nuclear iraniano tenha sido o alvo principal.
O fato de o Stuxnet aparentar ser desenvolvido para atacar um tipo de computador de controle industrial da Siemens, usado para gerenciar vários tipos de planta nuclear, pode ser revelador.
Além disso, desde o verão norte-americano de 2009, os iranianos têm tido dificuldades com o funcionamento de suas centrífugas, máquinas imensas que giram em velocidade supersônica a fim de enriquecer urânio -e que podem explodir espetacularmente em caso de instabilidade. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, desconsiderou sugestões de que o país estaria tendo problemas com suas plantas de enriquecimento, mas algo está freando os iranianos.
Dados sobre o país mostram uma queda significativa no número de centrífugas usadas na planta de Natanz, a principal do país.
Esses eventos se somam a uma maré de suspeitas. As dificuldades que os especialistas têm em descobrir a origem do Stuxnet acabam expondo as tentações e perigos dos ciberataques.
Para as agências de inteligência, eles são quase uma arma irresistível, livres de impressões digitais. Porém a impossibilidade de descobrir em curto prazo de onde eles vêm explica por que muitos especialistas se opõem ao uso de ciberarmamentos.
Há muitas razões para suspeitar do envolvimento de Israel no Stuxnet. Inteligência é a maior seção de suas Forças Armadas, e a unidade dedicada a redes de computadores, sinais e eletrônicos é o maior grupo dentro da seção de Inteligência. Equipes que trabalham na análise minuciosa do software encontraram um fragmento textual sugerindo que os invasores teriam chamado o seu projeto de Myrtus. A goiabeira é parte da família Myrtus, e um dos módulos do código é identificado como Guava (goiabeira).
Carol Newsom, especialista em Antigo Testamento da Universidade Emory, confirmou a conexão linguística entre a família da planta e a personagem do Antigo Testamento, notando que o nome original da rainha Ester em hebreu é Hadassah, semelhante à palavra hebraica murta. "Talvez alguém estivesse fazendo um jogo com cruzamento linguístico de palavras conhecidas".

Tradução de
FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS


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