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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
Um pouco de gentileza
HÁ UM PRECONCEITO arraigado em boa parte do mundo
digital que emperra sua evolução, o de que processadores são ferramentas. À medida que a interação progride e
as interfaces se tornam mais
amigáveis, o diálogo fica
complexo e emocional. Nesse
contexto, quem continua a se
comportar como uma máquina à espera de instruções corre o risco de ser encarado como um serviçal rústico, com
quem ninguém deseja ter contato prolongado.
Esse problema é endêmico
nos produtos e serviços que
não emplacam ou que, mesmo que abocanhem uma boa
parte do mercado, não têm
usuários fiéis. É aquela TV
bem boa que ninguém lembra
se é LG ou Samsung; aquele
celular bacana que deve ser
da Motorola se não for da
HTC; aquele notebook...
Mais focados nos avanços
tecnológicos do que nos desejos e necessidades de seus
usuários, muitos produtos
são incomodamente espartanos e malcriados, se comportam como burocratas mal pagos e desinteressados que demandam que seus donos pensem como máquinas, aprendam suas manhas e façam tarefas repetitivas e inúteis.
Até a virada do século, essa rispidez era natural; ninguém esperaria gentileza de
uma chave de fenda. O problema é que o mundo evoluiu
muito mais rápido do que certas empresas que, concentradas no que tinham a vender,
deixaram de perguntar se alguém ainda queria comprar.
A grosseria de muitos sistemas faz com que seus usuários se sintam estúpidos, sejam levados a cometer erros,
tenham uma curva de aprendizado difícil de vencer e que,
mesmo vencida, não proporciona uma experiência envolvente ou agradável.
A frustração fica evidente
quando comparada com o
mundo dos videogames. Por
mais complexos que eles sejam, sempre se preocupam
em elogiar e recompensar
seus participantes à medida
que progridem.
Já planilhas e sistemas de
"eficiência" fazem o contrário, punindo os imbecis que
não os compreendem.
Elegância e prestatividade
ainda são consideradas
"frescura" em boa parte do
ambiente digital. É uma pena. Qualquer um que já as tenha experimentado no mundo árido do mercado de serviços sabe como são bens valiosos para seus consumidores.
É espantoso que tantas
empresas ainda não percebam como podem ganhar
com um pouquinho de gentileza em seus produtos.
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