São Paulo, domingo, 10 de junho de 2001


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Restaurantes invadem redutos de culturas diferentes e põem até picanha em cardápio japonês

Forasteiros no bairro

Luana Fischer/Folha Imagem
Gustavo e Camila dançam forró no Recanto do Nordeste, que fica na Liberdade, centro


DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine um restaurante nordestino no bairro da Liberdade (zona central de São Paulo), reduto da colônia oriental. Outro, no Bom Retiro (zona central), onde coreanos e judeus são maioria, especialista na cozinha grega. Ou então um restaurante japonês na Mooca (zona leste), famosa pela concentração de italianos.
Em termos de negócio, a primeira idéia que vem à cabeça é a de que esses estabelecimentos escolheram um ponto comercial errado e não poderiam sobreviver nesses locais. Juízo falso: é possível tocar um empreendimento "estrangeiro" em bairros típicos, mas é necessário, em alguns casos, fazer adaptações no cardápio para agradar à clientela.
Para o consultor Francisco Guglielme, 44, há dois ângulos: o de ser um negócio diferente para a região e um local que respeita a cultura e apresenta novidades. "A questão não é o ponto comercial, trata-se de uma estratégia de foco, já que a intenção não é aumentar a concorrência direta, mas oferecer algo diferente."
Foram necessários apenas três meses para que o empresário Carlos Rivas Gomes, 38, sócio da Churrascaria Paes de Barros, na Mooca, adaptasse o cardápio e colocasse um bufê de massas para atrair mais clientes. "Parte dos frequentadores é realmente fiel à massa, mas não deixamos de ter garçons vestidos como gaúchos ou de servir 14 tipos de carne." O bufê tem seis tipos pré-cozidos, três opções de molho e 16 de temperos. O rodízio custa R$ 6,90.
Dono do restaurante Acrópoles, no Bom Retiro desde 1959, o grego Thrassyvoulos Georgios Petrakis, 80, afirma que o segredo está em preparar pratos brasileiros com uma pitada de tempero grego -a receita ele não revela. O preço de um prato vai de R$ 8 (tomate desfiado com carne moída e arroz) a R$ 14 (carne de carneiro).

À brasileira
Quem colocou um tempero brasileiro na comida foi o restaurante japonês Made in Japan. Há dois anos na Mooca -pertence ao italiano Hélio Pistelli-, oferece até batata frita e picanha. Os pratos variam de R$ 21 (picanha grelhada com batatas e salada verde com palmito para duas pessoas) a R$ 70 (opções da culinária japonesa).
Já Francisco Dantas dos Santos, 51, afirma que o sucesso do restaurante Recanto do Nordeste (Liberdade) é o fato de servir apenas pratos típicos do Nordeste. Ele não fez nenhuma adaptação no cardápio, que tem como carro-chefe o baião-de-dois. Mesmo assim, acredita que 20% do público seja composto por orientais. O faturamento bruto da casa é R$ 30 mil, com lucro de R$ 5.000.
No Bexiga (zona central), área mais conhecida pela presença das cantinas, o restaurante japonês Koyama sobrevive sem mudanças no cardápio desde 1991. Shuji Koyama, 52, proprietário do estabelecimento, que tem um preço médio de R$ 20 a R$ 40, diz que 80% da clientela é formada por orientais. (CYNTIA FARABOTTI)


Acrópoles: 0/xx/11/223-4386; Churrascaria Paes de Barros: 0/xx/11/ 6128-0332; Koyama: 0/xx/11/283-1833; Made in Japan: 0/xx/11/6915-8503; Recanto do Nordeste: 0/xx/11/ 270-0728.



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