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J. P. Cuenca

Enciclopédia de bares - Vol.2

Em Paris, o Old Navy tem paredes de cor de vômito e poltronas desbotadas como as de um cinema pornô

Continuo a série iniciada na última coluna, onde catalogo e indico os melhores bares do mundo.

Frankfurt - "Mainkai-sieben-bitte" --é das poucas coisas que sei falar em alemão e uma das primeiras que digo quando chego em Frankfurt, pedindo ao taxista que me leve ao número sete da avenida que margeia o rio Meno. Die Rote Bar (O Bar Vermelho) fica num prédio residencial de fachada insuspeita.

Não há placa luminosa, música ou barulho de conversa. Toca-se o interfone e logo um bartender de gravata-borboleta abre a porta. Pergunta quantos somos e, depois de um breve confere, nos deixa entrar.

O bar funciona num pequeno apartamento reformado para finalidades alcoólicas. A iluminação é baixa, as paredes de veludo são escuras e o destaque do ambiente está nas garrafas por trás do balcão. A música soa igualmente discreta, sempre alguma chanson française ou swing jazz dos anos 1930. Estamos entre agentes da KGB, conspiradores do teatro e dançarinas de cabaré.

Um copo d'água com rodelas de pepino finamente cortadas é servido antes de partirmos à coqueteleria clássica, com preços menores ou iguais aos bares da moda das capitais brasileiras --e qualidade infinitamente superior. Os amantes de angostura podem mergulhar em combinações psicodélicas de drinques como Seelbach ou Sazerac servidos por bartenders que parecem deslizar sobre rodas. Se você gosta de fumar dentro de um bar, todos os anos, no domingo depois do aniversário da morte de Serge Gainsbourg, o dono abre uma exceção. Vale a viagem. O site www.rotebar.com.

Nos próximos volumes, esta enciclopédia contemplará outros bares secretos (ou quase) como o que há no caminho para o banheiro de um kebab ordinário na Rosenthaler Platz, em Berlim. E o que hoje funciona no apartamento de célebre e estrelar jovem poeta na rua Bela Cintra, em São Paulo.

Paris - Sou um obcecado pelo Old Navy, o primeiro bar em que entrei em Paris. O número 150 do Boulevard Saint Germain já me inspirou crônica, capítulo de romance e até trecho de peça de teatro.

Sempre que volto a cidade, passo pela sua fachada e constato, aliviado, sua irreversível decadência. Ainda que esteja numa região nobre e turística de Paris, o Old Navy é um bar sujo e sem atrativos, tirando o de ser um dos poucos lugares na cidade onde se pode comer um bife às duas horas da manha?.

As paredes são pintadas com cor de vômito, as poltronas são desbotadas como as de um cinema pornô e há quase sempre uma TV de plasma passando videoclipes em alto volume.

Se em algum momento do século 20 aquilo foi um café parisiense (Gabriel García Márquez lembrou, em seu necrológio sobre Julio Cortázar, ter espiado o escritor argentino passar uma tarde escrevendo por lá em 1956), hoje ele é símbolo do que Paris se transformou --junto com o resto do mundo. É um genérico bar-tabacaria de estação de trem ou aeroporto, sem nenhum jovem revolucionário ou escritor angustiado rabiscando originais em suas mesas. As noites de karaokê, as maquininhas de jogos, os vídeos no LCD, os turistas perdidos, a banalidade, a banalidade... O chope quentinho acompanha bem.

Futura edição da série incluirá a passarela do legendário Aux Folies, em Belleville.


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