Após visitar os 13 parques da Disney, repórter entra no 'clube do Mickey'
Com fontes luminosas, acrobatas e balé de jet skis, parada no complexo de Tóquio impressiona
Vício cultivado por fãs leva, por exemplo, pai e filho visitarem seis parques da companhia em um dia, de jatinho
Algumas pessoas desprezam a Disney, e eu entendo. A artificialidade, as filas intermináveis --sim, eu entendo.
O extremo oposto --os que amam a marca-- sempre foi um mistério maior.
Algumas pessoas amam tanto os parques da Disney que visitas ao complexo da Califórnia ou ao da Flórida não bastam. É preciso ir aos de Paris, Hong Kong e Tóquio --há 13 parques Disney no total.
O que motiva alguém a perder tempo e dinheiro com isso? Que tipo de pessoa, depois de ir a Space Mountain na Flórida, voa a Paris para conhecer a versão francesa da mesma atração? Alguém doido. Ou pelo menos era isso que eu pensava. Agora, tendo ido aos 13 parques, me tornei membro do "clube do Mickey".
Tudo aconteceu antes que eu pudesse perceber. De repente, lá estava eu comendo pipoca sabor chá com leite no Tokyo DisneySea. Visitei parques da marca quando menino. Era muito divertido, mas não aceitei tudo. Orelhas de rato? Nem morto.
Em 2007, quando fui contratado para pesquisar sobre a Walt Disney Co., fazia uma década que eu nem via o castelo de Cinderela. Mas as reportagens me levaram a visitar parques nas duas costas dos Estados Unidos, e comecei a perceber a presença de uma categoria de visitantes, como Tony Spittell e seu filho, que visitaram os seis grandes parques Disney na América do Norte em um dia, de jatinho.
Segundo Mark Duffett, professor de estudos culturais na Universidade de Chester (Inglaterra), os humanos gostam de colecionar coisas. Em lugar de procurar figuras de porcelana, "essas pessoas estão recolhendo experiências", ele disse.
Eu consigo me relacionar ao vício de visitantes compulsivos, mas minha aventura pelos parques tem por base a curiosidade de um repórter.
IMPERIALISMO
As pessoas que odeiam a Disney há muito criticam os parques internacionais como produtos do imperialismo cultural. Mas a Disney rebate essa crítica, descrevendo-a como antiquada. "Como você pode nos julgar sem verificar por você mesmo?", perguntou um executivo da marca.
Por isso, em uma viagem a Paris em 2011, convenci meu parceiro, Joe, a deixar de lado o Sacré-Coeur e fomos a Marne-la-Valée, onde há dois parques Disney. O lugar tinha um cheiro francês.
Ficamos boquiabertos ao chegar ao parque principal. Para concorrer com Paris, a Disney investiu pesado na criação do local, em 1992: de todos os castelos, o de Paris é o mais extravagante.
Havia muitas imagens características da iconografia Disney que não pareciam ter sido adaptadas para a Europa, mas também algumas atrações novas e exclusivas, como o Crush's Coaster, e o Finding Nemo.
Enquanto Joe bebia uma cerveja --o parque não servia álcool, norma da Disney, mas os europeus reclamaram e a empresa cedeu--, comecei a pensar sobre a mais recente empreitada da empresa, a Disney de Hong Kong, onde fui via Disney de Tóquio, em 2013.
Além de pipoca no Japão, nós nos empanturramos com bolinhos mochi recheados com chocolate Toy Story. As lojas de brindes ofereciam itens jamais vistos em Orlando, o que tornava as compras uma delícia --ao que parece, muitos japoneses adultos usam cuecas do ursinho Puff.
E um dos dois parques, o Tokyo DisneySea oferecia uma parada aquática que nos deixou sem fala: fogos, fontes luminosas coreográficas, lasers, acrobatas, um balé de jet skis, um desfile de barcos em forma de serpentes.
A Disney de Tóquio talvez ofereça a melhor atração de todo o império, mas você não a encontra no mapa do parque. Os fãs a chamam de "corrida de touros", e ela acontece de manhã. Quando os portões se abrem, cerca de 40 mil pessoas correm, em um esforço para escapar das filas. É o estouro da boiada.
O próximo destino foi Hong Kong. Foi ali que comecei a imaginar se não estava exagerando. Mas as filas eram curtas por conta da chuva. À tarde, fomos a Space Mountain, a montanha-russa clássica da Disney. Já tínhamos percebido que cada Space Mountain tinha algo de diferente.
Na Califórnia, o carrinho roda macio, e há escuridão completa. Em Orlando, não é tão escuro e os trilhos têm mais solavancos. A de Paris anda de cabeça para baixo, e a de Tóquio tem um túnel de alta velocidade; a versão de Hong Kong dispara os visitantes na direção de planetas.
Ao sair, pensei que visitar os 13 parques havia me ensinado como a Disney opera, especialmente no exterior.
O império de parques está repleto de surpresas --sim, a ideia de que a Disney é um rolo compressor cultural precisa ser aposentada, especialmente porque ela está construindo um 14º parque em Xangai, que será o seu primeiro a abandonar a entrada com o cenário de uma cidade do interior dos Estados Unidos. Será por um jardim que acomodará festivais culturais.
Mas a Disney é a Disney: Dumbo, Pinóquio e as princesas de "Frozen" sempre estarão lá. O que torna um parque da Disney único, em última análise, são as pessoas que o frequentam.
Na França, por exemplo, elas caminham sem correr. Já os visitantes de Tóquio, tendo passado pela corrida inicial, se organizam polida e silenciosamente em filas.
"O que o parque representou para você?", perguntei a Joe. "Um calo", ele respondeu. Com certeza vou deixá-lo em casa quando a Disney de Xangai abrir em 2015.