Turista do campo
Hortas de Valência, na Espanha, voltam a crescer com restaurantes próprios que servem a tradicional paella e oferecem passeios em que se aprende sobre vegetais plantados no local
A galinha caipira que faz parte da paella passeava até poucos dias atrás pelas plantações de onde se colhem tomates e alface. No local, também é possível aprender sobre vegetais mediterrâneos em um passeio de charrete.
Perto dali, uma pausa para devorar um arroz de mariscos no meio de uma horta. Em mais 10 km, aproveita-se para conhecer a chufa, tubérculo usado para fazer a orchata, bebida não alcoólica popular na Espanha no verão.
Os três passeios são amostras da transformação que vem ocorrendo nas hortas de Valência, na Espanha. Minguadas com a crise econômica e o avanço de grandes supermercados, as hortas, que estão entre as mais tradicionais e produtivas da Europa, voltaram a ser "cool".
Proprietários de terras e de restaurantes apostaram na união com a gastronomia local, abrindo casas dentro de plantações. E gastronomia local, em Valência, tem nome próprio: paella. O prato é o carro-chefe das casas, todas a menos de dez minutos do centro turístico da cidade.
Além de saborear o prato, os visitantes podem participar da colheita, escolher direto na horta o que vão querer à mesa e passear a cavalo enquanto esperam a refeição.
"Eu tinha certeza de que a horta valenciana ia desaparecer e queria manter essa cultura. Queria que as pessoas conhecessem de onde vêm os alimentos mediterrâneos", diz Antonio Montoliu, agricultor que abriu um restaurante na casa anexa a seu sítio.
Na barraca de Montoliu, a paella é servida na versão original: com frango, coelho, garropa (um tipo de feijão local) e vegetais. Feita no quintal em forno a lenha, como manda a tradição, chega à mesa com aperitivos, salada, pão e vinho da região.
Para os amantes do prato, é uma experiência mais fiel e saborosa que a de pedi-lo em algum dos restaurantes do centro turístico.
HORTA NA CIDADE
Quem não tem tempo ou não quer se deslocar de carro tem uma boa opção a 500 metros da Cidade das Artes e das Ciências, principal complexo turístico de Valência.
O Alqueria del Pou, outro representante do movimento de resgate das hortas, fica no meio de plantações em uma pequena zona agrícola nas costas do Oceangrafic, o maior aquário da Europa.
A vista é uma das melhores --um mar de plantações com as curvas modernas da Cidade das Artes ao fundo.
A proposta da casa é servir pratos simples. No cardápio, tapas típicas de Valência como a titaína --um guisado de tomate, pimentões, pinolis e atum-- e, claro, paella.
O proprietário Rafael Solera diz que a ideia do movimento é colocar clientes em contato com a terra e os produtos locais, como a chufa.
O tubérculo pouco conhecido dos brasileiros é o principal chamariz do Casa El Famós, um restaurante familiar de mais de cem anos encostado na praia de Malva Rosa.
A casa estava a ponto de fechar as portas quando um grupo de estrangeiros pediu para visitar os campos que rodeiam o restaurante.
Foi aí que os donos tiveram a ideia de oferecer passeios pela plantação, com direito a colocar a mão na massa e retirar a chufa direto da terra. Hoje, o restaurante lota quase todo fim de semana.