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No centro carioca, clima já é o dos blocos do Carnaval

Com a trégua na greve da PM, o Rio antigo vira cenário de bandas e blocos

A despeito das crises, e até por causa delas, a folia 2012 promete; no trajeto, há restaurantes e bares antológicos

HELOISA SEIXAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em fevereiro de 1919, quando mal se recuperava da epidemia de gripe espanhola (só em outubro de 1918 foram 15 mil mortes no Rio, cuja população somava um milhão de habitantes), a cidade viveu um grande Carnaval. Assim, dá para acreditar que este Carnaval será bom demais.

A primeira prova disso veio na última sexta-feira: horas depois de decretada a greve da polícia carioca, quando ainda se temia um descontrole semelhante ao ocorrido na Bahia, o Cordão da Bola Preta, em saída pré-carnavalesca, botou mais de cem mil pessoas para brincar na mesma Cinelândia onde os policiais tinham se reunido em assembleia.

O Bola promete fazer um minuto de silêncio no sábado, dia de seu desfile oficial, em homenagem às vítimas dos três prédios que caíram na avenida 13 de Maio, bem ao lado da antiga sede do cordão (sempre na Cinelândia).

Carnaval é isso, é catarse. E não é à toa que a explosão do Carnaval de rua no Rio tenha acontecido nos anos mais difíceis da violência urbana. Desde então, ele só fez crescer. Em 2011, foram mais de quatro milhões de foliões nas ruas: mais de dois milhões só no Bola Preta -que está se inscrevendo no "Guinness", o livro de recordes, para desbancar o pernambucano Galo da Madrugada.

À LA CARMEN MIRANDA

É tanta banda e tanto bloco que já há quem reclame. A quantidade de blocos na zona sul é enorme, mas brincar no centro do Rio tem sabor especial, porque o entorno -a arquitetura, os restaurantes tradicionais - fazem com que a gente se sinta no tempo de Carmen Miranda.

A região da Praça 15 é o local de concentração de vários blocos e bandas, como a Banda do Mercado e o Cordão do Boitatá, um dos blocos mais originais. No Boitatá vai todo mundo de fantasia. As mais comuns remetem mesmo aos anos 1920, 1930, como diabos e bebês chorões. E o Cordão do Boitatá toca não só sambas e marchinhas, mas também maxixes, frevos, choros.

Ali, naquela região, fica o tradicional restaurante Rio Minho, que, fundado em 1884 na rua do Ouvidor, 10, é combinação perfeita para um folião, digamos, retrô.

Se o Rio Minho (que fecha aos sábados e domingos) estiver fechado, o folião tem opções na rua do Ouvidor, via que se confunde com a história do Rio. Pode atravessar a Presidente Vargas e dar um pulo ao Paladino (omeletes e sanduíches saborosos em um ambiente centenário, na esquina de Uruguaiana com Visconde de Inhaúma) ou ao Beco das Sardinhas.

Pode ainda radicalizar e ir à Pedra do Sal, onde se concentra o bloco Sambamantes (quase uma ação entre amigos, fantasia obrigatória), aproveitando para comer no Angu do Gomes, no Largo da Prainha, ali bem no pé do morro da Conceição. Mais Rio antigo, impossível.

Se estiver pelas bandas da Lapa -seja ou não dia de desfile do Bola-, é até difícil escolher: o Capela, com seu cabrito com brócolis, cheio de alho frito, e o Cosmopolita são as opções óbvias. O último, para quem não lembra, é onde foi criado o filé (na verdade, o contrafilé) a Oswaldo Aranha. Fundado em 1926, ali, no mesmo lugar onde está até hoje (na Visconde de Maranguape, esquina da travessa do Mosqueira), o Cosmopolita, com suas portas de saloon, tem interior modesto, mas ali já recebeu senadores da República.

Mais escondido, o Adega Flor de Coimbra (na travessa do Mosqueira, esquina da rua Joaquim Silva), fica num prédio onde morou Portinari. E, além de bolinhos de bacalhau, tem tempero local e faz o melhor feijão manteiga do Rio -o prato contém energia suficiente para se pular sete dias deste Carnaval 2012.

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