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Nas trilhas do Nepal

Assessorada por habitantes locais, caminhada clássica ao topo do mundo, na cordilheira do Himalaia, reúne aventureiros que partem de Katmandu

Fotos Pedro Carrilho/Folhapress
Fim de tarde no Nuptse visto do Lobuche (4.930m)
Fim de tarde no Nuptse visto do Lobuche (4.930m)

DO ENVIADO AO NEPAL

O Nepal tem oito dos dez picos mais altos do planeta. Terra de sherpas e iaques, de lendas de yetis, é referência em histórias de conquistas e tragédias do montanhismo.

Na maioria das vezes, as estradas ainda não chegaram. Mais do que simples caminhos para a prática do trekking, as trilhas são usadas por locais para locomoção entre os vilarejos rurais.

A mais popular das trilhas é, naturalmente, a que leva até o campo-base do monte Everest. A região onde está localizada a mais alta montanha do mundo, o Khumbu, é habitada pelo povo sherpa.

Apesar da primeira conquista de um pico nepalês por um estrangeiro ter ocorrido em 1888, a febre do montanhismo adveio da abertura das fronteiras na década de 1950 (antes, num Nepal isolado, o acesso era via Tibete).

Os pioneiros iniciavam a jornada nos subúrbios de Katmandu, e as expedições duravam meses e reuniam centenas de carregadores, cozinheiros e guias. Tanto sir Edmund Hillary como Tenzing Norgay são considerados heróis locais e dão nome a aeroportos, escolas e pousadas.

A pesada caminhada até a base do Everest não é tecnicamente difícil. É necessário, no entanto, estar em forma e atento aos sintomas do mal da altitude. Mas, acima de tudo, é necessária disposição, vontade de emergir num mundo remoto e determinação para completar a trilha etapa por etapa.

Há caminhadas de diferentes durações. Para a mais simples e popular, do aeroporto de Lukla até o campo-base e de volta pelo mesmo caminho, é necessário dispor de uns 12 dias. Como a trilha sobe rapidamente a altitudes perigosas, é necessário fazer dois dias de aclimatação.

Para quem tem tempo, há a trilha clássica, percorrida por expedições pioneiras antes da construção do aeroporto em Lukla. Começa em Jiri, vila a 12 horas de ônibus de Katmandu. Mais barata por evitar o problemático voo Katmandu-Lukla, a porção da caminhada antes de Lukla passa por regiões longe do turismo de massa, nas quais é possível interagir de forma genuína com locais.

Dia 1

Katmandu (1.400m) - Lukla (2.800m) - Benkar (2.710m)

O voo é feito em pequenas aeronaves no aeroporto Tenzing-Hillary, em Lukla, frequentemente citado entre os mais perigosos do mundo. A pista tem 460 metros de extensão. Depois da tensão no ar e de um café da manhã reforçado, o primeiro dia de caminhada é agradável, entre vilarejos e verde. Completam a paisagem o rio Dudh Kosi e os primeiros gigantes nevados: Kusum Kangru (6.367m), Kongde Ri (6.187m) e Thamserku (6.623m).

Dia 2

Benkar (2.710m) - Nam-che Bazaar (3.420m)

A trilha segue o vale cada vez mais estreito, passando pela entrada do parque nacional em Monjo. Pouco depois está a mais alta ponte suspensa da caminhada, que marca o início da íngreme e longa subida para Namche Bazaar. É neste trecho que os "trekkers" começam a ficar sem fôlego, mas é também onde está a primeira vista da mais alta montanha do mundo. Tire o resto do dia para descansar, comer tortas de maçã ou subir 20 minutos acima da vila para ver o pôr do sol no Everest.

Dia 3

Namche Bazaar (3.420m)

Esse é o primeiro dia "obrigatório" de aclimatação. Respeite-o.

Aproveite para conhecer os arredores de Namche, onde ficam algumas das principais vilas do Khumbu, como Khumjung, e o hotel Everest View. Localizado a 3.880 metros, é considerado o hotel mais alto do mundo e tem vistas inesquecíveis do Everest.

Tome ao menos um chá inflacionado aqui para admirar o panorama antes de voltar para Namche. Namche Bazaar é praticamente a "capital" da região, com dezenas de opções de hospedagem. O mercado semanal em Namche é aos sábados, quando habitantes de toda a região descem para fazer suas compras.

Dia 4

Namche Bazaar (3.420m) - Tengboche (3.870m)

O vilarejo de Tengboche é conhecido por seu grande mosteiro budista. É necessário descer novamente até o fundo do vale para subir ao outro lado do rio. As vistas no caminho compensam o esforço, incluindo closes do Kangtega (6.782m).

Dia 5

Tengboche (3.870m) - Dingboche (4.360m)

O desnível é um pouco maior que o recomendado. Se quiser, pernoite em Pheriche, 200m abaixo de Dingboche. Acima dos 4.000m, as árvores desaparecem, e a vegetação se torna mais arbustiva. O Everest some atrás da longa crista do Nuptse (7.861m), e só reaparece três dias depois.

Dia 6

Dingboche (4.360m)

Segundo dia de descanso "obrigatório". Aproveite para subir até os alojamentos de Chukhung (4.730m) para ajudar na aclimatação. Em todo o vale há magníficas vistas do Lhotse (quarta montanha mais alta do mundo, com 8.516m) e da face norte do Ama Dablam, irreconhecível daqui. Se estiver tudo bem, prossiga na manhã seguinte.

Dia 7

Dingboche (4.360m) - Lobuche (4.930m)

Depois de vistas dos vizinhos Taboche (6.542 metros) e Cholatse (6.440 metros), chega-se à morena final da geleira do Khumbu -pequeno e cansativo obstáculo repleto de grandes pedras. Suba até a borda da morena, de onde se tem uma vista incrível da geleira.

Dia 8

Lobuche (4.930m) - Gorak Shep (5.160m)

Depois de atravessar mais uma cansativa morena lateral, chega-se a Gorak Shep, o mais alto aglomerado de alojamentos da caminhada. Gorak Shep foi o acampamento-base das primeiras expedições, mas hoje serve de pernoite para quem vai ao campo-base atual, ou ao Kala Patthar, um cume de 5.550 metros que tem a melhor vista do Everest no lado nepalês. A melhor hora para fotografá-lo é o fim da tarde, mas leve uma lanterna para a volta. Há internet, e o sinal do celular é excelente, graças à implantação de uma torre em seu topo.

Dia 9

Gorak Shep (5.160m) - Dzonghla (4.830m)

Siga de volta a trilha até uma bifurcação entre Lobuche e Duglha. Aqui começa a trilha que cruza o desafiador passo Cho La, com alguns trechos estreitos e escorregadios. Dzonghla tem apenas duas hospedagens.

Dia 10

Dzonghla (4.830m) - passo Cho La (5.420m) - Tagnag (4.700m)

O dia mais cansativo. Começa de madrugada para que se chegue ao topo do passo antes das 10h, evitando o degelo diário. Recomenda-se que não se percorra o trecho sozinho -tanto a subida como a descida, do outro lado, são muito íngremes. Leve um lanche, pois não há vilarejos no caminho. Óculos escuros são essenciais. Oito horas depois, chega-se a Tagnag.

Dia 11

Tagnag (4.700m) - Gokyo (4.750m)

Outro dia extremamente cansativo. Começa com a travessia do glaciar Ngozumba que desce desde a encosta do Cho Oyu (8.201m). Do outro lado fica o vilarejo de Gokyo, situado às margens do lago homônimo. Apesar de 200 metros mais baixo que o Kala Patthar, o cume do Gokyo Ri (5.360m) tem subida mais longa e cansativa. Suba devagar e persevere, mas não hesite em descer caso não se sinta bem. Assim como no Kala Patthar e no passo Cho La, bandeirolas de orações budistas tremulam suas cores ao vento.

Dia 12

Gokyo (4.750m) - Phortse Tenga (3.680m)

Longa descida de volta às florestas temperadas e temperaturas mais amenas. No caminho, paisagens belíssimas diferentes dos da subida.

Dia 13

Phortse Tenga (3.680m) - Namche Bazaar (3.420m)

Curto dia de caminhada, mas que conta com longa subida para atravessar o Mong La logo no início. Uma vez em Namche, relaxe. Presenteie-se com guloseimas e anuncie ao mundo que está vivo nos internet cafés.

Dia 14

Namche Bazaar (3.420m) - Lukla (2.800m)

Longo dia de descida com distância de 18 km. A chegada em Lukla merece celebração em algum de seus pubs.

Dia 15

Lukla (2.800m) - Katmandu (1.400m)

Conte com o bom tempo e a sorte para decolar cedo e chegar o quanto antes de volta aos confortos de Thamel e ao final da aventura de uma vida.

(PEDRO CARRILHO)

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