Índice geral Turismo
Turismo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ligação com capital argentina permeia os livros de Borges

Escritor foi enterrado em Genebra, apesar de se referir ao cemitério da Recoleta como lugar de 'suas cinzas'

Professor de literatura na Universidade de Buenos Aires, autor também foi diretor da Biblioteca Nacional

EUCLIDES SANTOS MENDES
ENVIADO ESPECIAL À ARGENTINA E AO URUGUAI

O escritor Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires, em 24 de agosto de 1899. Era bilíngue desde a infância (aprendeu a ler em inglês antes que em espanhol). Em 1914, transferiu-se com a família para a Europa. Viveu em Genebra, na Suíça, e na Espanha. Em 1921, regressou à cidade natal, redescobrindo-a por meio da poesia.

"Esta cidade que acreditei ser meu passado/ é meu porvir, meu presente;/ os anos que vivi na Europa são ilusórios,/ eu estava sempre (e estarei) em Buenos Aires." Eis o que o jovem Borges confidencia no poema "Arrabalde", que integra seu livro de estreia, "Fervor de Buenos Aires" (editora Globo, tradução de Glauco Mattoso e Jorge Schwartz), de 1923.

Em outro poema do livro, "As Ruas", Borges declara sua ligação com Buenos Aires ao esboçar um perfil social da cidade: "As ruas de Buenos Aires/ já são minhas entranhas./ Não as ávidas ruas,/ incômodas de turba e de agitação,/ mas as ruas entediadas do bairro,/ quase invisíveis de tão habituais".

O escritor passou quase toda a sua vida na capital argentina, atuando não apenas como autor diretamente ligado a outros expoentes da cultura portenha do século 20, mas também como diretor da Biblioteca Nacional e professor de literatura na Universidade de Buenos Aires.

Borges revela, ainda em 1923, no poema "La Recoleta", a vontade de estar para sempre vinculado à cidade onde nasceu: chama ao famoso cemitério de Buenos Aires "el lugar de mi ceniza" ("o lugar de minhas cinzas").

Em 1984, ao publicar seu último livro, "Atlas" (editora Companhia das Letras, tradução de Heloisa Jahn), em parceria com María Kodama (sua herdeira e presidente da fundação que leva o nome do escritor), Borges ainda manifesta o desejo de que seu corpo repouse em solo portenho.

Em texto sobre o bairro La Recoleta, o escritor, talvez rememorando o jovem poeta, declara: "Não há quase nada aqui, sob os epitáfios e as cruzes. Eu não estarei aqui. Estarão meu cabelo e minhas unhas, que não saberão que o resto está morto e continuarão crescendo e serão pó."

O autor de "Fervor de Buenos Aires" não foi enterrado na cidade onde nasceu. Borges morreu na Suíça, em 14 de junho de 1986, e seu corpo repousa num cemitério de Genebra -ao que consta, segundo sua própria escolha.

Para Beatriz Sarlo, também estudiosa da obra de Borges e autora de "Jorge Luis Borges - Um Escritor na Periferia", (editora Iluminuras), havia algo do qual o autor queria fugir, "um Carnaval nacionalista em que ele seria um fetiche da literatura argentina -inclusive por parte de pessoas que não o leram".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.