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Com passado conturbado, Albânia se abre ao turismo

País, que já viveu ditadura comunista, entrou cambaleando no novo milênio

Paisagens ao redor do lago Koman parecem ter saído de uma das sequências da trilogia 'O Senhor dos Anéis'

KILLIAN FOX
DO “GUARDIAN”

A superfície do lago está completamente plácida. As colinas abruptas e as altas montanhas mais além não apresentam sinais de vida humana, excetuadas as edificações de fazendas solitárias que parecem penduradas das encostas. Não há estradas visíveis, nem cabos telefônicos.

Estamos no pico do verão, mas não há muitos passageiros na balsa. A maioria nessa imensa embarcação está acomodada no interior do casco. A vista excepcional não é novidade para eles.

Em qualquer outro lugar da Europa, esse percurso de duas horas atrairia hordas de turistas, mas a Albânia não é um destino muito procurado -pelo menos por enquanto.

Os últimos cem anos não foram fáceis para este pequeno país, ao norte da Grécia e perto da Itália, do outro lado do Adriático. Mais de 40 anos de ditadura comunista sob o ditador isolacionista Enver Hoxha, seguidos por um período desastroso de capitalismo descontrolado, no final dos anos 90, fizeram com que o país ingressasse cambaleando no novo milênio.

Nossa primeira parada foi Shkodër, a maior cidade do norte, encimada por um castelo medieval construído por venezianos e otomanos e entrecortada de bulevares erguidos na era comunista.

Nosso plano era seguir viagem na manhã seguinte rumo aos Alpes albaneses, no nordeste. Quem deseja evitar uma viagem rodoviária longa e precária deve tomar a balsa no lago Koman.

Mas não sabíamos chegar ao lago, não encontramos um posto de assistência ao turista e até mesmo o guia tinha pouco a sugerir. Por fim, um taxista que falava um pouquinho de inglês ligou para um amigo e marcou que ele nos pegasse no dia seguinte.

Foi uma experiência que se repetiu por diversas vezes. Basta perguntar a alguém na rua e, se a pessoa não souber como ajudar, tem um primo em segundo grau que certamente o fará. Se pessoas prestativas e hospitaleiras fossem um recurso comercializável, a Albânia seria um país rico.

Eram 6h30 quando George nos apanhou com sua minivan. Às 6h32, parou em um café e nos ofereceu expressos com doses de conhaque Metaxa. E logo estávamos prontos para a viagem.

O lago Koman foi criado pela represa de um grande projeto hidrelétrico construído nos anos 80. Uma hora depois do início da viagem, as encostas arborizadas deram lugar a penhascos calcários que se aproximavam mais e mais da água, criando a impressão de que o lago estava por ser engolido.

No momento em que você conclui que a balsa vai bater em uma das paredes rochosas, a água volta a se alargar e a embarcação percorre um canal estreito entre duas paredes rochosas verticais. É como a sequência fluvial no primeiro filme da trilogia "O Senhor dos Anéis".

O vale de Valbona, coração dos Alpes albaneses, fica a duas horas de carro de Fierz, o ponto final da balsa. É uma região flanqueada por montanhas altas, íngremes a ponto de nos forçar a inclinar a cabeça para trás a fim de divisar seus picos rochosos.

Se você se dispõe a suportar estradas esburacadas e arranjos de transporte idiossincráticos, a Albânia é uma rara descoberta.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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