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Rota na França atrai o 'ciclista gourmet' com pratos e vinhos

Roteiro que sai de Paris rumo ao sul do país leva turista a vinícolas, vinhedos, hotéis e restaurantes sofisticados

A rodovia N7 e a outra via principal, N6, são muito movimentadas, e o passeio segue por estradinhas paralelas

ADAM RUCK
DO “GUARDIAN”

A Volta da França serve para nos lembrar de que existem dois tipos de ciclista: os corredores, que medem sua satisfação nas vistas deslumbrantes de que desfrutam sem fôlego ao superar os mais difíceis passos montanheses, e os demais, cuja recompensa por uma longa manhã no selim é um bom almoço, seguido posteriormente por uma ceia interessante. A bicicleta serve como carta branca para a gula sem culpa.

Para o ciclista gourmet, a estrada que vai de Paris rumo ao sul tem atrativos irresistíveis. A rota migratória que define a França moderna é a mais frequentada das estradas -por viajantes profissionais, artistas impressionistas e parisienses em férias.

Também serve como rota gastronômica, que vem acompanhada pelo convite para provar os frutos da terra na Borgonha e erguer uma taça de tinto nas colinas que abrigam as vinícolas Hermitage e Châteauneuf-du-Pape, santuários da enologia ao longo do rio Rhône.

Esse caminho descobriu seu hino em 1955, com a canção "Route Nationale Sept", de Charles Trenet, celebrando a mais longa estrada da França, a rodovia nacional N7, que se estende por mil quilômetros de Paris a Menton, passando por Lyon, Avignon e Aix-en-Provence.

A despeito das estradas expressas, a N7 e a outra principal artéria para o sul, a N6, são movimentadas demais para ciclistas. Por isso, o ideal é acompanhá-las por estradinhas paralelas.

As telas coloridas do palácio episcopal de Sens confirmam que chegamos à Borgonha, e nosso primeiro vinho de piquenique da viagem foi comprado lá, um Chablis Vieilles Vignes vendido na barraca da vinícola no mercado local.

Depois da Montagne de Beaune, disparamos por um carpete de preciosos vinhedos: Pommard, Monthélie, Meursault e, por fim, Puligny-Montrachet, onde um incomum almoço de degustação de vinho nos aguarda.

Olivier Leflaive é um empreendedor de vinho que opera um hotel e restaurante sofisticado com uma carta de vinhos para degustação a preço fixo. "O teste real, agora", diz nosso garçom e guia, alinhando garrafas de Chassagne, Puligny e Meursault para contraste e comparação.

Cruzamos o Saône e entramos na região de Bresse, a pátria do queijo azul e das melhores galinhas para culinária. Era a hora certa para almoçar frango em Vonnas, uma aldeia que serve como parque temático gastronômico e se tornou o feudo pessoal do famoso cozinheiro e empresário Georges Blanc.

Na praça central da "premier village gourmand de France", Blanc recebe os clientes com uma mistura de experiências gastronômicas e de consumo -lojas, hotéis, spas, heliporto, restaurante fino e um "auberge" mais simples para quem quer uma experiência mais acessível.

Ao longo dos séculos, a corrente contínua de viajantes resultou em avanços na arte da hospitalidade. Chefs instalaram barracas de comida à beira da estrada, postos de "pit stop" com estrelas no guia "Michelin" que surgem a intervalos de poucos quilômetros. Entre eles estão alguns grandes nomes da culinária francesa -Meneau em Vézelay, Bocuse em Collonges, La Mère Brazier em Lyon.

Montando um grupo de estabelecimentos assemelhados ao longo da estrada de Paris à Riviera, Marcel Tilloy fundou o Relais de Campagne em 1954, com o slogan "La Route de Bonheur" (a rota da felicidade). Todos os participantes compartilhavam de um estilo aconchegante caracterizado pela decoração meticulosa, excelência culinária e ambiente campestre pacato. A ideia de Tilloy pegou, gerando uma nova espécie de viajante para o qual o hotel é o verdadeiro destino de uma jornada. A associação Relais & Chateaux, que evoluiu com base na Relais de Campagne de Tilloy, continua a usar o slogan "Route de Bonheur".

"Os franceses chamam o caminho de Route de Bonheur", escreveu o editor de guias de viagem norte-americano Jerry Hulse. "Mas também seria possível chamá-la de 'avenida da engorda'".

Sua primeira parada foi o Poste, em Avallon, uma clássica estalagem restante do século 18, na qual o imponente René Hure era um dos dez chefs franceses aos quais o guia "Michelin" conferia três estrelas, então.

O Poste continua a existir, mas a decoração parece caída, e o restaurante sobrevive de lembranças. A Relais & Chateaux agora é representada por Marc Meneau no vizinho L'Esperance, ao lado da famosa igreja de peregrinação de Vézelay.

Descendo o Rhône, paramos para provar os vinhos da Tain L'Hermitage e da casa rival, a Chapoutier. Mais adiante, amigos nos esperavam no sopé do Col de Tartaiguille.

Em seguida, vem um trecho quente pelas colinas até Nyons. Depois, seguimos pela estrada do vinho que nos conduziu pela vertente oeste de uma bela cadeia de montanhas em miniatura, os Dentelles de Montmirail, passando por Gigondas e Beaumes de Venise.

Depois de um piquenique em Ouvèze, o caminho final até Avignon é um trecho empoeirado da velha N7.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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