Culinária foi criada para a sobrevivência

Pelos ingredientes, a base da alimentação tibetana, em torno da carne vermelha e do leite, não é tão diferente da do Brasil. Mas basta provar o queijo, com sua consistência de pedra e sabor de leite gorduroso e azedo, e as semelhanças param por aí.

Criada pela necessidade de sobrevivência num ambiente inóspito, a culinária gira em torno do iaque. Sem o bovino rústico de longos pelos, do qual até o esterco é aproveitado como combustível para cozinhar, dificilmente haveria a civilização tibetana.

Além do queijo, servido em cubículos brancos, o leite de iaque também produz o chá de manteiga (po cha, em tibetano), provavelmente a primeira coisa a ser oferecida a visitantes em casas, monastérios e outros locais.

Quem não gosta de comer manteiga pura dificilmente apreciará o gosto gorduroso e salgado do po cha. Uma dica: a xícara do visitante sempre é logo reabastecida, não importa o tamanho do gole. Para não ofender o anfitrião, a melhor estratégia é tomar a xícara de uma vez no final.

Já a carne de iaque (ou de variações híbridas), assada quase sem tempero além do sal, é bem mais palatável, embora também gordurosa em comparação com a carne bovina brasileira.

Outra opção é o tsampa, massa feita com cevada tostada, manteiga de iaque e água. Prático, é considerado o alimento mais básico da dieta tibetana.

Com a invasão de turistas han (maioria étnica da China), é mais fácil encontrar comida chinesa do que a tibetana. Em Lunang, por exemplo, quase todos os restaurantes servem uma especialidade da vizinha província de Sichuan. Trata-se do shiguoji, um ensopado de frango cozido numa panela de pedra.

A maior dificuldade está no café da manhã, quando o estilo chinês mais se distancia do ocidental. Fora de Lhasa, é difícil encontrar café e pão, mas sempre é possível encontrar um ovo salvador.