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URUGUAI NATURAL
Capital uruguaia abre as portas para a nostalgia
Refúgio de tranqüilidade urbana, centro histórico sintetiza lugar de tradições expressas nas ruas
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MONTEVIDÉU
"Parecen mentira las cosas
que veo/ por las calles de Montevideo." Esse é o refrão da canção "Adiós Juventud", encontrada no assovio de pacatos senhores ou no coro de adolescentes boêmios pelo centro
histórico nas noites de sábado.
A música não mente: Montevidéu reserva um modo de vida
que não parece de verdade. A
tranqüilidade, os ainda intocados costumes e a natureza que
se ergue diante do asfalto fazem da capital do Uruguai um
encrave de bem-estar urbano
na América do Sul.
O centro histórico, a Ciudad
Vieja, é a síntese da capital: ali
se encontram o passado -nas
ruas estreitas de pedras, nas
construções oitocentistas- e o
cotidiano do comércio, em restaurantes que atendem a trabalhadores apressados; a vanguarda de lojas de roupas exclusivas e novidades sonoras
rioplatenses; e o porto, com seu
vaivém reverente ao rio da Prata, que brilha, mesmo sob o frio
vento de outono, ao longo da
costa montevideana.
A Ciudad Vieja parte do extremo da principal avenida, a 18
de Julio. Dali para trás, de frente para a praça Independencia,
onde está o mausoléu do general José Artigas (1764-1850),
prócer do Uruguai, começa um
passeio pela Montevidéu que
soube preservar suas raízes
sem deixar de avançar aos dias
atuais. Para entrar, basta cruzar a Puerta de la Ciudadela,
uma enorme porta de pedra,
vestígio de fortificação erguida
entre 1741 e 1780 para defesa da
Montevidéu colonial, então sob
domínio espanhol. Algumas
ruas à esquerda da Ciudadela,
se ergue o teatro Solís, aberto
em 1856 e batizado em homenagem ao navegador espanhol
Juan Díaz de Solís, comandante da primeira expedição a registrar a região.
De volta ao portão, a poucos
passos de sua entrada, o Museu
Torres García concentra a obra
do nome mais importante das
artes plásticas do país. Adiante, a primeira
grande praça que surge é a da
Constitución.
Logo no início da Constitución está a livraria e editora Linardi & Risso, fundada em 1944
e especializada em publicações
latino-americanas. A casa tem
entre seus clientes nomes como o peruano Vargas Llosa e
Tomás Eloy Martínez e possui
relíquias como cartas originais
de Artigas e Domingo Sarmiento (presidente da Argentina entre 1868 e 1874).
Aos sábados, a praça da
Constitución concentra espetáculos de teatro, música e dança, em que o tango ocupa lugar
de destaque. Mas não espere a
profusão de casais, volteios e
produtos alusivos como os que
se vêem em Buenos Aires.
O Uruguai se proclama a verdadeira pátria de Carlos Gardel
(o cantor teria nascido no Departamento de Tacuarembó, ao
norte do país), mas não faz o
ritmo sobreviver em camisetas
ou bares temáticos.
Aqui, o tango é um amor recatado, percebido pela cadência que voa de uma janela entreaberta ou em um tratamento carinhoso: é comum uruguaios chamarem suas amadas
de Malena, de um tango de
1941, mulher de "olhos escuros
como o esquecimento".
A praça irradia outros passeios. Pela Peatonal Sarandí
chega-se ao Prata por um trajeto luminoso. Ao final, nos muros de pedra, pescadores passam o dia à base de chimarrão.
Vale descer pelos outros lados da praça, por ruas como
Ituzaingó ou 25 de Mayo, que
descrevem, a partir das fachadas, as arquiteturas e momentos econômicos que atingiram
o antigo epicentro de Montevidéu nos últimos dois séculos.
Enfileiram-se pontos tradicionais, como o Café Brasilero, e inovadores,
como a loja de roupas de Ana
Livni e Fernando Escuder.
Ladeiras abaixo, o rio da Prata volta a cingir Montevidéu e
convida a celebrar essa cultura
-nostálgica e pulsante, discreta e contundente- no Mercado
del Puerto: prova de que, no
Uruguai, mesmo às margens do
"rio mais largo do mundo", tudo acaba mesmo é em carne.
ONDE - Teatro Solís: r. Reconquista, s/nš.
Tels. 00/xx/5982/1950-3323 e
1950-3324.
ONDE - Livraria Linardi & Risso r.
Juan Carlos Gómez, 1.435
Tel. 00/xx/5982/915-7129
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