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URUGUAI NATURAL
Café Brasilero põe à mesa incertezas do cotidiano nacional
No centro velho, o ponto de 1877 serve autênticos acepipes, como a "pasqualina", torta de acelga com ovo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MONTEVIDÉU
No cotidiano uruguaio pairam muitas dúvidas: o futuro
do futebol "charrúa", como é
denominada a decepção geral
da nação; a previsão do tempo,
o verdadeiro esporte nacional
hoje; as relações com os vizinhos Brasil e a Argentina -gigantes nada adormecidos.
Três coisas, no entanto, são
certas: 1) pelo menos duas vezes por semana o escritor uruguaio Eduardo Galeano dará
expediente num meio de tarde
para quem quiser conhecê-lo
ou debater como andam as tais
veias abertas da América Latina; 2) ele estará tomando, indefectivelmente, um copo de suco
de laranja natural e uma boa
dose de café com leite (não necessariamente nessa ordem);
3) tudo isso vai acontecer, como sempre, no Café Brasilero.
Classificado pelo autor do
clássico "As Veias Abertas da
América Latina" como sua segunda casa, o bar é tradição absoluta na Ciudad Vieja e um dos
estabelecimentos mais antigos
de Montevidéu. Aberto em
1877, foi batizado de acordo
com o que se conta por ali em
homenagem à terra natal de
seus primeiros donos, os sócios
Correa e Pimentel.
No Brasilero, com o perdão
do paradoxo, estão os mais autênticos acepipes uruguaios: a
"pasqualina" (torta de acelga
com ovo cozido), a "pasta frola"
(torta doce que pode ser coberta com goiabada ou doce de leite), o "olímpico" (sanduíche de
pão de miga com queijo, presunto, ovo cozido, alface e tomate) e o "medio y medio", irresistível bebida local à base de
vinho branco e champanhe.
Em torno das mesas e cadeiras de madeira escura, ao fundo
do balcão conservado à moda
antiga, garçons que não têm
medo de bater papo (desde que
convidados, bem entendido)
apresentam pacientemente os
frescos quitutes da casa.
Ninguém tem de consumir
nada para poder passar a tarde
sentado por lá sem interrupções nem cara feia, característica que mantém o Brasilero
sempre às voltas com leitores
inveterados e estudantes, enfurnados sob os quadros antigos do estabelecimento.
"Aqui o que importa é que você se sinta à vontade, independentemente do que vai fazer.
Ainda é permitido não ter pressa", afirma o proprietário, Carlos Mancebo.
Seja para o descanso estratégico entre um passeio e outro,
para uma happy hour ou até
mesmo celebrações de casamentos, a casa recebe todo
mundo e vai se mantendo ao
longo de mais de um século,
movida a simplicidade e simpatia. Nada mais uruguaio. Nada
mais brasileiro.
(DENISE MOTA)
CAFÉ BRASILEIRO - r. Ituzaingó,
1.447; de segunda a sexta, das 8h30
às 20h; pasta frola (fatia): 25 pesos
(cerca de R$ 2,40); pasqualina: 36
pesos (cerca de R$ 3,50); olímpico:
50 pesos (cerca de R$ 4,85); café
com leite: 30 pesos (cerca de R$
2,90); suco de laranja: 35 pesos
(cerca de R$ 3,40); medio y medio
(taça): 35 pesos.
Tel. 00/xx/5982/915-8120
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