São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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URUGUAI NATURAL

Café Brasilero põe à mesa incertezas do cotidiano nacional

No centro velho, o ponto de 1877 serve autênticos acepipes, como a "pasqualina", torta de acelga com ovo

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MONTEVIDÉU

No cotidiano uruguaio pairam muitas dúvidas: o futuro do futebol "charrúa", como é denominada a decepção geral da nação; a previsão do tempo, o verdadeiro esporte nacional hoje; as relações com os vizinhos Brasil e a Argentina -gigantes nada adormecidos.
Três coisas, no entanto, são certas: 1) pelo menos duas vezes por semana o escritor uruguaio Eduardo Galeano dará expediente num meio de tarde para quem quiser conhecê-lo ou debater como andam as tais veias abertas da América Latina; 2) ele estará tomando, indefectivelmente, um copo de suco de laranja natural e uma boa dose de café com leite (não necessariamente nessa ordem); 3) tudo isso vai acontecer, como sempre, no Café Brasilero.
Classificado pelo autor do clássico "As Veias Abertas da América Latina" como sua segunda casa, o bar é tradição absoluta na Ciudad Vieja e um dos estabelecimentos mais antigos de Montevidéu. Aberto em 1877, foi batizado de acordo com o que se conta por ali em homenagem à terra natal de seus primeiros donos, os sócios Correa e Pimentel.
No Brasilero, com o perdão do paradoxo, estão os mais autênticos acepipes uruguaios: a "pasqualina" (torta de acelga com ovo cozido), a "pasta frola" (torta doce que pode ser coberta com goiabada ou doce de leite), o "olímpico" (sanduíche de pão de miga com queijo, presunto, ovo cozido, alface e tomate) e o "medio y medio", irresistível bebida local à base de vinho branco e champanhe.
Em torno das mesas e cadeiras de madeira escura, ao fundo do balcão conservado à moda antiga, garçons que não têm medo de bater papo (desde que convidados, bem entendido) apresentam pacientemente os frescos quitutes da casa.
Ninguém tem de consumir nada para poder passar a tarde sentado por lá sem interrupções nem cara feia, característica que mantém o Brasilero sempre às voltas com leitores inveterados e estudantes, enfurnados sob os quadros antigos do estabelecimento.
"Aqui o que importa é que você se sinta à vontade, independentemente do que vai fazer. Ainda é permitido não ter pressa", afirma o proprietário, Carlos Mancebo.
Seja para o descanso estratégico entre um passeio e outro, para uma happy hour ou até mesmo celebrações de casamentos, a casa recebe todo mundo e vai se mantendo ao longo de mais de um século, movida a simplicidade e simpatia. Nada mais uruguaio. Nada mais brasileiro.
(DENISE MOTA)


CAFÉ BRASILEIRO - r. Ituzaingó, 1.447; de segunda a sexta, das 8h30 às 20h; pasta frola (fatia): 25 pesos (cerca de R$ 2,40); pasqualina: 36 pesos (cerca de R$ 3,50); olímpico: 50 pesos (cerca de R$ 4,85); café com leite: 30 pesos (cerca de R$ 2,90); suco de laranja: 35 pesos (cerca de R$ 3,40); medio y medio (taça): 35 pesos. Tel. 00/xx/5982/915-8120


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