São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2005 |
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ENTREVISTA Para o especialista Klotzel, "voar é seguro; em cada 1 mi de vôos, ocorre só um acidente" "Não há aviação sem manutenção"
JULIANA DORETTO AVIÃO VELHO - Isso não existe. Existe, sim, avião mal mantido. Um avião de dez anos ainda nem atingiu sua maioridade. Basta que a companhia aérea faça a manutenção como pede a empresa que o construiu. Além disso, ninguém deixa o avião esquecido: ele é visitado regularmente pelo fabricante e por órgãos locais de fiscalização. Um avião só fica velho a partir do momento em que não for mais rentável, ou seja, quando for tão ruidoso ou tão pouco econômico que sua operação se torne inviável ou até mesmo proibida em certos aeroportos. Em média, isso leva 15 ou 16 anos para ocorrer ou 60 mil ciclos. Cada ciclo significa uma decolagem e um pouso. De fato, o MD-82 que caiu na Venezuela e o Boeing-737/200 que se acidentou no Peru eram velhos, já que nem são mais fabricados, mas isso não quer dizer nada, necessariamente, contanto que a velhice deles fosse digna. AVIÃO PEQUENO
- Os de pequeno
porte, de até dez lugares, estão entre os mais modernos do mundo,
porque a inclusão de aprimoramentos tecnológicos nesses modelos é mais rápida do que nas aeronaves maiores. Porém, enquanto os aviões grandes voam em
imensas estradas aéreas e circulam somente em aeroportos equipados, os chamados de executivos operam em condições piores
e às vezes pousam em lugares
mais livres -uma pista em fazenda, por exemplo. MAU TEMPO - Vale o bom senso
do piloto e da torre. Com tempo
ruim, é simples: não decola ou
não pousa. Mas, se encontrar condições ruins ao
longo da rota, o
piloto vai sendo
informado do que
vem pela frente.
Ele também pode
pedir autorização
para desviar do
mau tempo. Além
disso, a altura em
que os jatos voam
diminui as chances de o avião entrar em uma tempestade forte. O
piloto também
decide quando
abortar ou retardar um pouso. A
torre aconselha,
mas ele tem soberania. Afinal, numa intempérie, o
piloto automático
é burro. Ele pode
corrigir demais
um problema,
causando outro
maior: só o piloto
tem sensibilidade
para fazer a pausa
necessária e ver
como o avião se
comporta. POR QUE CAI? -
Nunca um acidente tem uma só
causa, apesar de falha na manutenção ser um motivo mais raro
do que um julgamento errôneo
do piloto. O elemento humano,
claro, é sempre o elo mais fraco.
Eu confio mais numa máquina,
claro, mas há outros fatores contribuintes. Dizem que os pássaros
não perturbam mais, mas volta e
meia entra um urubu na turbina e
causa um problemão. HORA DO RUSH - Como contornar os aeroportos congestionados? Onde você construiria um
aeroporto em São Paulo, mesmo
se tivesse recursos ilimitados? Seria longe, perto de Jundiaí, talvez.
A área de Nova York que está
congestionada tem três aeroportos moderníssimos. Alguns defendem que a solução são os megaaviões, como o Airbus A-380,
que tem 550 lugares e logo terá
mais de 800. Mas nessa época, em
que o sujeito até come falando no
celular, para não perder um minuto, ninguém vai aceitar chegar
a seu destino em uma hora em
que não desejar. Sempre vai haver
congestionamento, e o crescimento do tráfego é rápido, principalmente na Ásia. Ou seja, a solução não é fácil, não está à porta. DESPRESSURIZAÇÃO - A 10 mil
metros de altitude, o ar está a
-55C e tem apenas 20% da quantidade de oxigênio a que estamos
acostumados aqui. Pressurizar
significa manter no avião uma
pressão e uma temperatura que o
passageiro encontraria em terra,
numa montanha de mais de 2.000
metros de altura. Como se faz isso? O motor a jato tem um compressor, que suga e comprime o
ar. Rouba-se um pouco desse ar,
que vem quente, a 200C, e com
pressão, fazendo-o passar por
uma série de equipamentos e reduzindo sua temperatura para
23C. Então o avião deixa escapar
uma quantidade de ar suficiente
para que a pressão que fica na cabine seja semelhante à da montanha. Se der uma pane nesse sistema, em primeiro lugar, sente-se
uma dor terrível no ouvido e, como se respira menos oxigênio,
perdem-se os sentidos. Para sanar
isso, o piloto leva o avião a menos
de 4.000 metros de altitude e continua voando: os passageiros nem
precisam mais de máscaras. Ninguém morre de frio por despressurização, como se ouviu no acidente da Grécia: perde-se a consciência antes de congelar. MOTOR: QUANTO MAIS, MELHOR -
O número de motores é decidido
pela potência que o avião deve ter
e pode ser dois, três ou quatro.
Claro que há a tendência, por parte do passageiro e até de certos pilotos, de que quanto mais, melhor. Mais um bijato pode voar
para aonde voa um quadrijato. MODERNIDADE - Hoje em dia
qualquer avião que se preze, mesmo executivo, tem um aparelho
chamado de TCAS, que indica se
há um avião na sua vizinhança, se
ele está vindo na sua direção e o
que fazer para escapar dele. O radar, que antes era preto-e-branco,
hoje é como um sinal de trânsito,
em relação às nuvens: amarelo,
cuidado; vermelho, não entre;
verde, pode entrar. Se o piloto
quiser, ele não toca no avião. Logo
depois da decolagem, aperta meia
dúzia de botões, e o avião se dirige
sozinho ao ponto designado.
Além disso, o comandante tem
todo os avisos de que precisa na
sua frente: parece até uma árvore
de Natal. E equipamentos sempre
estão sendo inventados. Quanto
mais moderno, mais difícil quebrar. A frota brasileira, por exemplo, é nova e satisfatória. |
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