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mercadões
Orixá define face religiosa de mercado gaúcho
OCUTÁ História de oferenda enterrada no prédio atrai devotos da umbanda
Gustavo Roth/Folha Imagem
| O mercado de Porto Alegre, de 138 anos, sobreviveu a avenida e enchente |
SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Cultura, religião, compras e
gastronomia se fundem dentro
do enorme quadrado que abriga o Mercado Público de Porto
Alegre (RS).
O prédio de dois andares que
ainda guarda a fachada original
de sua construção, há 138 anos,
quase foi destruído, em 1960,
para dar espaço a uma avenida.
A estrutura também se manteve de pé, em 1941, quando Porto
Alegre enfrentou uma enchente histórica. Na ocasião, as
águas alcançaram mais de três
metros de altura.
Centro de consumo e de turismo, o mercado oferece uma
rica diversidade de produtos,
restaurantes e serviços expostos em 106 bancas, que vão desde os prosaicos feijão e erva-mate a elaborados sushis e
acesso a wireless -internet rápida sem fio.
No piso térreo, estão as bancas de frutas, verduras, cereais,
vinhos, frutos do mar e açougue, as casas de umbanda e os
mais tradicionais bares e lancherias do Mercado Público.
Cardápio
O Gambrinus, mais antigo
restaurante da capital gaúcha,
foi fundado em 1889 e é um dos
dois únicos estabelecimentos
que continua funcionando
ininterruptamente desde o século 19 no mercado.
Algumas paredes conservam
os tijolos originais assentados
pelos escravos que utilizavam
água e areia do rio Guaíba para
fazer o acabamento.
No cardápio há opções de
carne e peixe com preços que
variam de R$ 18 a R$ 48 a porção, cervejas, chope e uma diversificada carta de vinhos.
Quase ao lado do Gambrinus,
fica o bar Naval, que funciona
desde 1907, vendendo frutos do
mar e comidas típicas gaúchas.
A banca 40 é outro ponto que
atrai a atenção dos visitantes.
Ali se vende a mais conhecida
salada de frutas com sorvete e
nata do mercado.
Poucos sabem, mas o nome
da sobremesa, bomba royal, foi
dado pela banca durante a Segunda Guerra Mundial em homenagem aos brasileiros que
lutaram na Europa.
Mas nem só de restaurantes e
especiarias é feito o Mercado
Público de Porto Alegre. Há
bancas de artesanato e de produtos feitos de lã e couro, como
tapetes, bolsas e almofadas.
Umbanda
A religião também domina
boa parte do local. E tudo porque, na sua construção, os escravos teriam enterrado bem
no centro do mercado um ocutá (em linguagem africana significa uma pedra) em referência a Bará (orixá que rege os caminhos, o trabalho, a sexualidade, a fartura e o início de todas as coisas).
Lenda para alguns, fato para
outros, esta história levou os
funcionários do Memorial do
Mercado a fazer uma ampla
pesquisa sobre a construção do
prédio e motivou escavações
arqueológicas quando o mercado foi reformado, em 1997.
O Bará não foi encontrado,
mas isso não desmotivou as milhares de pessoas que fazem
oferendas e se iniciam na umbanda dentro do mercado.
O segundo piso, acessado por
uma escada rolante ou dois elevadores, é ocupado quase totalmente por restaurantes de comidas típicas do Sul, japonesa e
vegetariana.
Há uma agência bancária e
uma sala com 12 computadores, que podem ser usados gratuitamente, desde que o usuário não entre em sites de pornografia ou no Orkut.
Desde o começo deste ano, o
Mercado Público também disponibilizou ao visitantes wireless gratuito em todas as dependências do prédio.
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