São Paulo, quinta-feira, 01 de dezembro de 2005

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ESTAÇÃO NAS NUVENS

Pinho-de-riga, madeira proveniente do norte da Europa, foi matéria-prima das primeiras casas

Trem deu origem ao povoado no séc. 19

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A vila de Paranapiacaba (em tupi-guarani, lugar de onde se avista o mar) é fruto da expansão da malha ferroviária paulista. As primeiras casinhas brotaram em meio à mata atlântica na metade do século 19 para abrigar famílias de operários e de engenheiros da empresa inglesa São Paulo Railway Company.
A vila está 800 metros acima do nível do mar. A linha ferroviária divide Paranapiacaba em duas áreas; ambas são tombadas como patrimônio histórico nacional.
A parte baixa, com 360 casas, foi adquirida pela Prefeitura de Santo André em 2001 por R$ 2,1 milhões. As residências particulares encontraram lugar na área elevada. Ali se estabeleceram ex-trabalhadores, além de pessoas que desejam a calma da vila. E o comércio se desenvolveu com maior vigor nessa região.
A maioria (80%) das casas da parte inferior foi construída com pinho-de-riga, segundo o diretor-secretário da AMA (Associação dos Monitores Ambientais de Paranapiacaba), Eduardo Pin.
Ele afirma ainda que a madeira não é mais comercializada e é encontrada apenas em reservas no norte da Europa. O banheiro das casas operárias ficava na parte externa, situação da maioria das residências até hoje. "Era uma medida sanitária", conta Pin.
Há na vila diversos tipos de moradia -a maioria construída para os operários. Um exemplo são as casas para solteiros, com vários quartos. As residências para casais são pequenas, com três ou quatro cômodos.
O Castelinho era a residência do engenheiro-chefe, o mais alto posto da empresa. A arquitetura do local é no estilo vitoriano, com um corredor central separando os cômodos e uma varanda.
A moradia, transformada em museu, está em um dos pontos mais altos da vila -para, segundo o diretor da AMA, possibilitar o controle visual sobre os funcionários e sobre uma das entradas da vila, que fica na parte baixa.

Degradação
Dois fatos marcaram a degradação de Paranapiacaba. Um foi o fim da concessão, em 1946, dada à empresa inglesa para explorar a ferrovia. O outro foi a troca do sistema de transporte, reduzindo drasticamente o número de operários, na década de 70. A iniciativa partiu da União, que já era proprietária da vila.
Com a saída dos funcionários, já nos anos 80, as casas passaram a ficar desocupadas, situação que possibilitou a invasão por pessoas vindas de outras partes, sobretudo de cidades do Grande ABC.
Parte dos antigos moradores se organizou, numa tentativa de preservar a memória e as estruturas do local. Com isso, em 1987, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) reconheceu a vila de Paranapiacaba como patrimônio histórico. Na década seguinte, a MRS Logística comprou parte da rede ferroviária federal, mantendo as atividades até hoje.
Em 2001 foi a vez da prefeitura andreense comprar da RFFSA a parte histórica da vila. No ano seguinte, a União reconheceu Paranapiacaba como patrimônio histórico nacional. Essas iniciativas tiveram papel fundamental na atual recuperação da vila. (MG)


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