São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2011

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MINHA HISTÓRIA LUIS ARACENA

O homem do deserto

(...) Comecei a trabalhar como guia de geólogos, arqueólogos e antropólogos.
(...) Aprendi muito com eles
(...) Peço que conheçam a nossa cultura, que está viva em todos os lugares


MARINA DELLA VALLE
ENVIADA A SAN PEDRO DE ATACAMA

Essa região é parte importante da minha vida. Eu acho que precisamos gostar do lugar em que moramos. Assim, fazemos algo por ele, o lugar melhora, e nossa vida também. Minha vida está toda ligada ao Atacama.
Nasci em Calama. Minha mãe morreu quando eu tinha um ano e meio. Éramos cinco irmãos, e minha irmã mais velha, que tinha 12 anos, cuidou de todos por um tempo. Quando eu tinha cinco anos, uma tia nos adotou.
Com sete anos eu já trabalhava, entregava jornais e estudava também. Mas foi quando eu comecei a viajar de Calama a San Pedro de Atacama para trocar roupas por frutas que comecei a conhecer melhor a região.
Eu viajava uma vez por mês, com até 12 malas cheias de roupas, para trocar por frutas, que depois eu vendia em Calama.
Essas viagens mensais foram de 1965 até 1980. Aí comecei a passear com pessoas que conhecia e queriam ir ao deserto, ao salar, conhecer melhor as belezas por ali.
Na época era bem mais difícil, não havia rotas, os caminhos eram mais complicados. E assim fui conhecendo a região cada vez melhor.
Depois comecei a trabalhar como guia de geólogos, arqueólogos e antropólogos que visitavam a área. Aprendi muito com eles. Esse trabalho me ensina muito. Hoje falo um pouquinho de inglês, de italiano, de francês...
O turismo começou a crescer mesmo lá por 1998, com a inauguração do Explora Atacama [primeiro resort de luxo da região].
A partir daí, San Pedro de Atacama se encheu de turistas, cresceu e foi atraindo firmas de excursões, abrindo hotéis, restaurantes, todos os serviços necessários para uma cidade turística.
Naquela época, eu fazia rotas para o Explora, caminhos para levar os hóspedes da melhor maneira possível até as atrações.
Depois de definir as rotas, eu as percorria com alguma frequência, para verificar se estavam em bom estado, se havia acúmulo de lixo, se ainda podiam ser usadas.
Caso não estivessem em bom estado, procurava rotas alternativas, especialmente se fosse possível encontrar um caminho mais curto.
Uma das coisas mais engraçadas que me aconteceu foi quando um norte-americano, muito jovem, me contratou para subir um vulcão.
Perguntei a ele se tinha todos os equipamentos e ele disse que sim. Quando o encontrei no dia seguinte, às 6h, ele estava vestido como caubói, de botas, calças jeans, camisa xadrez...
Fomos subindo e ele teve problemas com a altitude e ficou como se estivesse bêbado. Aí, teimou que queria descer a encosta por um lado muito perigoso, e não tinha como fazê-lo desistir da ideia. Tive de dar um murro na cara dele para impedi-lo de ir por aquele lado.
Ele ficou como que dormindo por uns minutos e, quando acordou, não se lembrava do soco. Só meia hora depois é que foi se lembrar.
Expliquei a ele que precisei dar o soco porque ele iria morrer se fosse pelo caminho que queria. Por fim, nos tornamos grandes amigos.
Além de trabalhar como guia, tenho um ateliê de arte para crianças em San Pedro do Atacama. Tenho cinco filhos, e os dois pequenos me ajudam com o artesanato.
Também tenho uma oficina de reciclagem de material, onde reciclo plástico, latas, papelão... É outra maneira de contribuir com essa região.
Aos turistas que pretendem visitar a região de Atacama, tenho uma sugestão: faça uma viagem de mais dias, para poder se aclimatar bem com a altitude e aproveitar melhor as atrações naturais que existem por aqui.
Também gostaria de pedir que conheçam, além das belezas naturais, a nossa cultura, a cultura atacamenha, que está viva em todos os lugares. É importante também conviver com essa cultura, com nossos costumes, que seguem sobrevivendo.


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